No primeiro semestre de 2022, vários municípios da área de abrangência da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Passos perceberam um aumento expressivo dos casos prováveis de dengue, o que chamou atenção da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e evidenciou a necessidade de promover ações rápidas.

Ações da SRS Passos e municípios evitam epidemia de dengue na região / Foto de Enio Modesto

Maio foi o mês mais preocupante, alguns municípios chegaram a apresentar alto índices, porém uma série de ações coordenadas envolvendo a SES-MG, a  SRS Passos e autoridades locais de saúde conseguiu evitar a piora da situação. 

As ações foram executadas por meio dos núcleos de Vigilância Epidemiológica (NUVEPI), Vigilância Sanitária (NUVISA) e Coordenação de Atenção à Saúde (CAS), com acompanhamento, análise e encaminhamentos pelo Comitê Técnico Regional de Enfrentamento das Arboviroses (CREA).

“A dengue apresenta um comportamento sazonal, ocorrendo, principalmente, entre os meses de outubro a maio. No entanto, em nossa região, os dados avaliados demonstram uma duração superior à média sazonal esperada. Dessa forma, as reuniões do Comitê Regional concentram-se no período em que se registra aumento na incidência de casos, o que ocorreu em 18 municípios no intervalo mínimo de quatro semanas epidemiológicas em 2022”, informou a coordenadora adjunta do CREA, Patrícia Mendes Costa. 

     Para se ter uma ideia da importância das ações promovidas, no Boletim Epidemiológico de Monitoramento dos casos de dengue, chikungunya e zika do dia 8 de novembro, foram registrados 10.679 casos de dengue, 14 prováveis de chikungunya e 3 de zika nas cidades da regional em 2022.  Entre os casos de dengue, 3 evoluíram para óbito no primeiro semestre. Apesar dos números não parecerem favoráveis, cabe frisar que no decorrer dos meses, após o primeiro semestre, não foram registrados novos óbitos  e as internações diminuíram, conforme levantamentos do CREA.  Isso significa que após a realização das ações promovidas SRS o cenário apresentou uma melhora, o que evitou um agravamento da situação. 

Em julho, os últimos dados levantados pelo comitê registravam seis internações e um arrefecimento das incidências de casos prováveis, que passaram de alto risco para médio e baixo na maioria dos municípios de abrangência da SRS.

De acordo com a superintendente Kátia Rita Gonçalves, é importante destacar que as ações que envolvem as arboviroses devem ser intersetoriais e integradas, articulando todos os atores envolvidos. 

“Desta forma, deve ocorrer articulação entre diversas secretarias municipais, instituições públicas e privadas e representantes da população civil organizada para o fortalecimento das ações de enfrentamento da dengue, zika e chikungunya. Para tanto, cabem aos municípios a elaboração dos planos municipais de contingência das arboviroses, um documento norteador, competindo a SRS Passos incentivar as ações articuladas e integradas nos municípios, no que tange ao planejamento de ações, monitoramento e avaliação sistemática dos resultados”, explicou Kátia Gonçalves.

Foco na prevenção

Os resultados positivos mostram a importância dos planos municipais de contingência das arboviroses, do acompanhamento do CREA e dos recursos disponibilizados pela SES-MG para que os municípios possam combater o mosquito e oferecer condições de assistência aos pacientes. 

Somente para as ações estratégicas, a SES-MG destinou R$ 109.758,10 para os municípios da região executarem as ações de assistência à saúde, vigilância, prevenção e controle da dengue, chikungunya e zika.

“Foram disponibilizados recursos para investimento (capital) e custeio a fim de promover a estruturação e manutenção de um comitê municipal de combate às arboviroses, bem como elaboração e execução do plano de contingência municipal com ações em todos os eixos correlacionados como: assistência, vigilância, mobilização social e controle vetorial”, relata a coordenadora da Vigilância em Saúde, Camila Ribeiro Correia Amano, do NUVISA/SRS Passos.

Na Assistência Farmacêutica (AF), a SES-MG disponibilizou medicamentos para o tratamento dos sintomas de dengue dos pacientes. Na SRS Passos, segundo a referência técnica Marcos Terra de Vasconcelos, a AF atendeu os 14 pedidos feitos por sete municípios de medicamentos para dor, febre, náuseas, sais para reidratação e soro.

Na área de atenção primária à saúde (APS), reuniões específicas foram realizadas com os municípios de maior incidência de casos de dengue no primeiro semestre do ano, segundo explica a referência técnica da CAS/SRS Passos, Gilmar Antônio Batista Machado. Uma delas foi a reunião virtual com profissionais das equipes municipais de APS, sobre manejo clínico das arboviroses causadas pelo aedes aegypti, com apresentação da médica infectologista Priscila Freitas das Neves, em 29 de abril.

Segundo Gilmar Machado, a atuação dos municípios em nível de APS foram norteadas por documentos específicos em situação de aumento de casos ou epidemia de dengue, como as “Diretrizes para a Organização dos Serviços de Atenção à Saúde”, a Deliberação CIB-SUS/MG nº 3.631, de 17 de novembro de 2021, que trata do plano municipal de contingência das arboviroses, e o "Roteiro Adaptado - Avaliação da Organização da Atenção Primária à Saúde”. 

“A partir desses documentos foi elaborada uma lista de checagem, repassadas aos coordenadores municipais de APS, para se prepararem adequadamente para o enfrentamento das arboviroses”, observou Machado.

Participação popular é fundamental

Outro fator que contribui para o controle do mosquito da dengue e o enfrentamento do risco de epidemia é o envolvimento da população, através da conscientização sobre o papel de cada um nas ações. Esse trabalho é feito pelas referências municipais em mobilização social, que promovem as políticas públicas de saúde junto aos moradores, com informações e orientações.

“A melhor forma de se prevenir contra a dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti. Mantenha-se vigilante quanto à limpeza de sua residência, empresa e seu bairro. Se vir um acúmulo de lixo ou entulho, ou qualquer recipiente com a larva do mosquito, denuncie aos conselhos de saúde”, recomenda a coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NUVEPI), Márcia Aparecida Silva Viana.

        “A mobilização é essencial para incentivar e sensibilizar a população quanto aos cuidados com a dengue.  É ela que motiva no desenvolvimento de ações na comunidade, para eliminação de focos e criadouros do  aedes aegypti.  O combate exige a participação de todos. A mobilização social aponta e convida ao mesmo tempo, para eliminação e combate à doença. Para controlar, é preciso conhecer”, afirma a mobilizadora e agente de endemias Thaís Lima Andrade, da Secretaria Municipal de Saúde de Passos. 

Em Piumhi, a mobilização social contra a dengue é também uma ferramenta utilizada diariamente pela equipe de controle de endemias, segundo a referência e agente de combate às endemias, Andrey Souza Passos. “Quando buscamos efetividade no combate a vetores transmissores de doenças, precisamos criar certas estratégias para sua prevenção, nessa hora o trabalho do mobilizador social é de grande relevância, pois é primordial a tarefa de informar à população sobre métodos para o cuidado ou esclarecer os principais sintomas de determinadas doenças”, justifica.

        Segundo Patrícia Costa, mesmo com índices baixos da doença, as ações preventivas devem ser mantidas, os planos de contingência atualizados e a população mobilizada no combate ao mosquito. 

“O quadro epidemiológico aponta para a vulnerabilidade de ocorrências de epidemias nestes territórios (18 municípios), bem como o risco de introdução de novos subtipos virais, possibilitando o aumento de casos graves e óbitos. É fundamental a ação dos profissionais de saúde, principalmente durante o período não sazonal da doença. As equipes devem desenvolver com bastante empenho as ações de rotina, que darão sustentação às atividades durante eventual surto ou epidemia”, finaliza Costa.

Por Enio Modesto