O Ambulatório Trans do Hospital Eduardo de Menezes (HEM) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), primeiro serviço ambulatorial de atenção especializada no processo transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS) estadual, completou, nesta semana, 1 ano desde sua inauguração, no dia 23 de novembro de 2017.

Para celebrar a data e as conquistas durante este período, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), em parceria com o HEM, realizou uma celebração na manhã do dia 29 de novembro (quinta-feira), no auditório da unidade, que contou com a presença de membros da diretoria e profissionais do hospital, usuários do Ambulatório e representantes das causas dos LGBTs, transexuais e travestis.

Participaram da abertura do evento, a diretora da unidade, Thaysa Drummond; o Secretário Adjunto de Saúde, Daniel Medrado; o Representante da Secretaria de Estado de Defesa Social, Participação e Cidadania e Coordenador de Diversidade Sexual – Douglas Miranda; o defensor público de Direitos Humanos, Socioambientais e Coletivos, Responsável pela temática de diversidade sexual na defensoria pública, Vladmir Rodrigues de Souza; a coordenadora do Núcleo de Políticas de Promoção da Saúde em Equidade, Lorena Luiza Chagas; a representante do Comitê LGBT, Iáscara Silva; o representante do segmento de homens trans, Gabriel Bencastri; e a representante do segmento de mulheres trans, Nara Costa.

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Durante a cerimônia, os convidados falaram sobre a importância de um espaço como o Ambulatório Trans, e das lutas e desafios deste grupo de usuários. Para a diretora Thaysa, que abriu o evento falando de números e resultados do serviço, o primeiro ano de ambulatório foi de muito aprendizado para todos os envolvidos. “Com uma proposta de atendimento integral, respeito às diferenças, escuta diferenciada, e adequando as demandas com o que temos a oferecer, hoje estamos felizes em ver a satisfação dos pacientes e seu vínculo ao serviço prestado”, afirma a diretora.

Em homenagem a uma das maiores ativista da causa LGBT em Minas Gerais, o Ambulatório Trans passa a ter o nome social de Anyky Lima, costureira que ficou nacionalmente conhecida por abrigar pessoas LGBTs que foram expulsas ou rejeitadas pela família de origem em sua pensão. Em um país que mais mata LGBTs e que as estatísticas apontam que a expectativa de vida da população trans e travesti não passa de 35 anos, Anyky, hoje com 62 anos, é símbolo de resistência e perseverança.

Durante a cerimônia, Douglas Miranda citou os desafios da gestão para as pequenas vitórias da comunidade LGBT. “Este ambulatório é um espaço de muita luta, e quando presencio este momento, em que comemoramos um ano deste serviço, com os números apresentados, espero que ele dure muito mais. Para que isto seja possível, será preciso resistência, mas todos nós ajudaremos para que isto aconteça. Acredito que todos nós aqui acreditamos em um mundo melhor”, disse o coordenador de Diversidade Sexual.

Neste primeiro ano de Ambulatório Trans, foram atendidas 187 pessoas, e realizadas 685 primeiras consultas, nas áreas de psicologia, serviço social, clínica, ginecologia, psiquiatria e enfermagem, ainda com suporte de outras especialidades. Usuários e usuárias de todas as regiões do Estado são atendidos no setor.

Usuários

O convidado e representante dos homens trans, Gabriel Bencastri, usuário do ambulatório desde sua inauguração, contou que seu processo de transição só foi possível graças ao serviço oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e ressaltou que a diversidade deve ser preservada dentro de uma sociedade. “Todos os profissionais do ambulatório são extremamente preparados para lidar com pessoas trans. Oprimir a individualidade é operar a favor da opressão da sociedade”, avaliou Gabriel.

A usuária Bruna, que assistiu à cerimônia, disse que frequentar o ambulatório permitiu a realização de um sonho. “Desde que comecei a fazer tratamento no ambulatório, comecei a ter todos os resultados que eu queria. Quero chegar mais longe. O suporte é ótimo, e é como se fosse minha segunda casa. Estou sendo hoje o que sempre quis ser”, contou ela, satisfeita.

Equipe Multidisciplinar

O atendimento no Ambulatório Trans, que conta com equipe interdisciplinar e multiprofissional, é composto por profissionais como psiquiatra, endocrinologista, clínico, enfermeiro, psicólogo e assistente social. Depois que o paciente é acolhido, é desenvolvido para ele um plano terapêutico individual, conforme as suas necessidades.

Para a diretora Thaysa, a atuação da equipe multiprofissional é de enorme importância, já que o tratamento envolve diversos saberes e conhecimentos, que vão além do medicamento, cirurgia e exame. “Os usuários do ambulatório não vêm aqui somente atrás de terapias hormonais, e se vêm, tentamos quebrar este paradigma, já que temos muito mais a oferecer. O que realizamos é uma abordagem fora da tradicional”, explica Thaysa. Os profissionais do HEM tem se atualizado constantemente sobre as questões relacionadas à temática LGBT, orientação sexual e direitos dos LGBT, com o objetivo de aprimorar a prestação de serviços a este grupo.

Sobre o Ambulatório

O Ambulatório Trans criado pela Fhemig em parceria com a SES-MG, representou uma nova forma de ingresso no Sistema Único de Saúde (SUS) para travestis e transexuais, que historicamente sofrem com a discriminação e a invisibilidade frente às políticas públicas.

Com o novo serviço, a comunidade trans passou a ter uma atenção humanizada e especializada que, além de contemplar suas especificidades, respeita sua individualidade, numa ação direta contra a transfobia, que expõe essa população a vulnerabilidades sociais geradoras de situações de risco social, como violências psicológicas e físicas, dentre outras.

Segundo Luciana Paione, coordenadora do serviço, quando a ideia do ambulatório começou a surgir, o objetivo era possibilitar que este grupo fizesse parte de um coletivo. “Queríamos que eles participassem do atendimento que prestamos ao SUS, mesmo com todas as limitações existentes, já que o serviço de saúde, por sua história, oferece um acolhimento das pessoas, sem distinções. O ambulatório foi uma inclusão destas pessoas que se diziam discriminadas, que não estavam sendo recebidas”, explica a médica.

O atendimento é realizado às quintas-feiras, no horário de 07h30 às 13h, com agendamento telefônico e também pelo Sistema Nacional de Regulação (Sisreg). Atualmente, são realizadas seis consultas por dia, mais os retornos.

 

Por Fhemig / ASCOM