Na última segunda-feira 18/10, o Grupo de Trabalho de Chagas da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Divinópolis, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), promoveu a 8ª Reunião Mensal de Vigilância da doença com a temática  “Colônias de Barbeiros  Identificadas: Parceria com a Fiocruz” para agentes de chagas e coordenadores de endemias dos 53 municípios da macrorregião Oeste.

Durante o encontro, também foram lançados três vídeos referentes a atividades de pesquisa ativa e borrifação do programa de Vigilância e Controle em Doença de Chagas.

Crédito: Willian Pacheco

Os vídeos estão disponíveis em:

https://onedrive.live.com/?authkey=%21ANUZYIns3JnZSlc&id=505B65429F4ED3D5%21133&cid=505B65429F4ED3D5

A professora da Fundação, Lileia Gonçalves Diotaiuti, explicou que no Brasil são 150 espécies de barbeiros identificados e que é fundamental conhecer o papel de cada uma delas na transmissão da doença, uma vez que todas podem infectar e transmitir a doença para as pessoas.

Entre os pontos abordados, a borrifação com inseticida tanto na parte externa (peridomiciliar) quanto interna (intradomiciliar) das residências; os ciclos de vida silvestre e domiciliar do vetor da doença de chagas; a importância dos registros e coletas de dados para se tenha uma boa informação e o papel da educação em saúde para que as pessoas saibam identificar e propor a realização de ações junto à comunidade.

De acordo com a professora, o trabalho de vigilância consiste em identificar rapidamente a entrada de barbeiros dentro das casas, principalmente, as fêmeas responsáveis depositarem ovos  em esconderijos. Este controle é fundamental para que o barbeiro, cientificamente conhecido como triatomíneo, existente em ambiente silvestre, não se aloje nas casas. Para evitar assim, a formação de focos e colônias do vetor, o controle pode ser feito tanto com inseticida quanto com orientações educativas às pessoas.

Embora o programa de controle do vetor tenha sido bem sucedido no Brasil  com trabalhos, inicialmente, da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucan) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) com redução drástica do número de barbeiros, a doença descoberta por Carlos Chagas, em 1909, é muito inobservada.

“É uma doença negligenciada quanto à disponibilidade de recursos para as ações de controle e quanto às pessoas infectadas, que são em geral moradoras de ambiente rural. Muitas delas em condições sociais de pouco acesso ao diagnóstico e tratamento da doença de chagas”, explicou a professora  Lileia.

Iniciativas da região

Em 2019, a ex-servidora da SRS Divinópolis, Janice Borba, lançou juntamente com a Fiocruz,  o Manual de Manejo da Doença de Chagas, em que define as atividades para serem desenvolvidas pelos municípios para fazerem o controle e a vigilância da doença de Chagas. “A Janice aposentou e deixou como legado a definição minuciosa das atividades”, destacou a professora.

Para contribuir e ilustrar de forma audiovisual o trabalho de borrifação, o também ex-servidor e membro do GT de Chagas, Maurício Couto, apresentou três vídeos que explicam por onde o agente de endemias deve começar o trabalho de vistoria da residência e como deve ser a aplicação do inseticida na residência.

Maurício explica que o objetivo é fortalecer as atividades de combate à doença nos municípios e manter um canal aberto de ensino e treinamento a distância que pode ser compartilhado de maneira ágil e simples com todos. “A intenção dos vídeos é disponibilizar, de forma prática, o conhecimento técnico da metodologia de vigilância do Programa de Controle da Doença de Chagas, utilizando as mídias sociais e tecnologias de divulgação disponíveis hoje”, explicou.

Treinamento para agentes municipais de saúde

Desde agosto deste ano, o Núcleo de Vigilância Epidemiológica (Nuvep) da SRS Divinópolis realiza treinamento para agentes municipais de saúde para atuarem no Programa de Controle da Doença de Chagas (PCDCh).  A capacitação é realizada no município de Itatiaiuçu, na macrorregião Oeste, com grupos de 4 a 6 municípios. Cada um deles permanece no treinamento por uma semana. A previsão é que em novembro deste ano finalize o ciclo com os profissionais que passam a ter condições de reativar ou aperfeiçoar o PCDCh.

Durante o período de aperfeiçoamento, são abordados a programação mensal de atividades do agente, práticas de reconhecimento geográfico (RG), de pesquisa de barbeiros, Postos de Integração sobre triatomíneos (PIT-Chagas, geralmente em zonas rurais, em que a população leva o agente transmissor da doença a um posto de coleta de barbeiros. Estes são coletados pela equipe municipal de saúde que os encaminha posteriormente ao  laboratório de referência), de borrifação que é controle químico, montagem e desmontagem de bombas e práticas de painel.

A referência de campo do PCDCh da SRS-Divinópolis, Orivaldo Campos Silva, ressalta a importância do trabalho realizado pelos agentes de endemias que vão às casas, capturam barbeiros, borrifam as casas tanto dentro quanto fora. Ele destaca, ainda, que na zona rural é onde se encontra mais vetores da doença e que as picadas do inseto nas pessoas ocorrem em regiões descobertas do corpo, principalmente a região do rosto.

“O barbeiro pica a pessoa, geralmente, na área descoberta quando ela está dormindo. Ele pica ao redor dos olhos, ferroa a pessoa e solta um anestésico que dura cerca de 15 minutos. Após se alimentar com o sangue, o inseto começa a soltar as fezes. Quando o efeito da anestesia passa, a pessoa coça e leva o tripanossoma Cruzi (protozoário) para a corrente sanguínea por meio das mucosas dos olhos, boca e nariz”, explicou a  referência.

Crédito: Arquivo

Chagas na macrorregião Oeste

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) aponta que, em 2019, a macrorregião Oeste possuía 4 casos de doença de Chagas crônica; em 2020, eram 11; em 2021, até o momento, 12 casos.

A maioria dos casos não apresenta sintomas na fase crônica, mas os comuns são: problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca e problemas digestivos, como megacolon (dilatação do intestino grosso, acompanhada de dificuldade para eliminar fezes e gases, causado por lesões nas terminações nervosas do intestino)  e megaesôfago (dilatação do esôfago que faz  faz com que haja um represamento do alimento e da saliva).

 

Por Willian Pacheco

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