A Regional de Saúde de Ponte Nova, por meio do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador, realizou, nessa quarta-feira (20/11), em Viçosa, a última etapa do cronograma de trabalho voltado à busca ativa em hanseníase em todos os 30 municípios que fazem parte da Regional. O evento, que é uma sequência das ações iniciadas em 28/08, teve como tema “Encontro em Hanseníase – Municípios silenciosos nos últimos 5 anos” e baseou-se nos dados constantes no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), no período compreendido ente 01/01/2015 e 14/11/2019.

O encontro contou com dois momentos. Na parte da manhã, houve sensibilização e capacitação sobre busca ativa e avaliação em hanseníase no município de Viçosa, direcionadas a gestores, coordenação da Vigilância em Saúde e da Atenção Primária, enfermeiros e agentes comunitários de saúde (ACS). À tarde, a programação envolveu o treinamento sobre diagnóstico e tratamento em hanseníase para os municípios da região de Viçosa, voltado a gestores, coordenação da Vigilância em Saúde e da Atenção Primária, médicos, enfermeiros e equipes dos centros de referência.

Com o tema “O perigo do silêncio na Hanseníase”, a primeira palestra foi proferida pela referência técnica em Vigilância do Óbito, Hanseníase e IST/Hepatites da Regional de Ponte Nova, Karine Cardoso, e pelo médico de referência da Regional, José Luiz Mairink.

Ao abordar sobre os casos da doença, Karine Cardoso informou que, conforme dados do Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase em Minas Gerais 2019, têm sido notificados cerca de 1400 novos casos a cada ano, nos últimos oito anos, em Minas Gerais. Em 2017, foram 1.095 novos casos, significando 5,18 novos diagnósticos a cada 100 mil habitantes.

“A ideia é dobrar o número de casos notificados, com 10 casos para cada 100 mil habitantes. Para isso, precisamos fortalecer o sistema de vigilância e informação para monitoramento e avaliação das ações de controle em todos os níveis de atenção, de modo a garantir informações sobre a distribuição, a magnitude e a carga de morbidade da doença nos diversos municípios da região”, declarou Karina Cardoso.

Créditos: Tarsis Murad

Já o médico de referência da Regional, José Luiz Mairink, falou sobre os sintomas da doença e destacou que é preciso estar atento ao “silêncio” que, segundo acredita, é a questão básica da hanseníase, já que os relatos são considerados baixos. “O questionamento central é se está acontecendo ou não o diagnóstico. Por isso, temos que fazer a busca ativa, procurando na comunidade pessoas que possam apresentar lesões que sejam suspeitas e encaminhá-las para o atendimento de enfermagem e médico para confirmação do quadro”, explicou.

Ainda segundo Mairink é a fundamental participação dos ACS como agentes modificadores de hábitos e costumes, alertando a população sobre a doença e seus sintomas.

Treinamento

A segunda parte do encontro contou com duas palestras, sendo a primeira delas, intitulada “Conceito e forma de transmissão, diagnóstico e meios de diagnóstico, diagnóstico diferencial, classificação clínica/operacional e tratamento em Hanseníase”. O tema foi conduzido pelo médico referência em Hanseníase da SES-MG, especialista em Hansenologia e membro da Sociedade Brasileira de Hansenologia, Miguel Slaibi Filho, que instruiu os participantes sobre as características da doença infectocontagiosa, que é transmitida pela micobacterium leprae.

“Essa bactéria é transmitida de pessoa a pessoa, normalmente através de uma fonte contagiosa, ou seja, um paciente portador de hanseníase de forma multibacilar (que não esteja em tratamento) para um contato suscetível. Hoje, acredita-se que 90% da população seja resistente à Hanseníase e somente 10% seja considerada suscetível”, instruiu.

O Miguel Slaibi também trouxe informações sobre tempo de incubação, formas de manifestação clínica, diagnóstico e tratamento, que pode durar de seis meses a um ano, dependendo da forma clínica da doença. “É importante que o tratamento precoce aconteça para interromper a cadeia de transmissão. Após o início do tratamento, entre 40 e 72 horas, é possível que o paciente interrompa a transmissão, mesmo em sua forma contagiosa”, esclareceu.

A segunda palestra da tarde, intitulada “Abordagem do Enfermeiro em Hanseníase”, ficou a cargo da especialista em Atenção e Cuidado Domiciliar da Secretaria Municipal de Saúde de Raul Soares, Daniela Roque. Em sua fala, ela tratou do fortalecimento do papel do enfermeiro e da equipe da Atenção Primária nas estratégias de prevenção, promoção, diagnóstico, tratamento e controle da doença. “Isso inclui instruir os profissionais quanto à realização da avaliação neurológica simplificada, à determinação do grau de incapacidade do paciente hanseniano e ao cuidar, de forma simples, desse paciente/família diante do diagnóstico, evitando ou minimizando danos físicos, emocionais e socioeconômicos”, pontuou.

Por Tarsis Murad