Com o objetivo de fazer uma análise simultânea da saúde humana, animal e ambiental, nesta quinta e sexta-feira (10 e 11/10), foi realizado em Montes Claros o Simpósio Leishmanioses: Desafios e Perspectivas. O evento, organizado pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) teve como parceira a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A coordenadora do Núcleo de Vigilância Ambiental, Epidemiológica e de Saúde do Trabalhador (Nuveast) da Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes participou de debates com outros profissionais de saúde, abordando as conquistas e os desafios que o controle das leishmanioses visceral e tegumentar ainda exige do poder público.

Crédito: Pedro Ricardo

Dirigido a um público multiprofissional, o simpósio reuniu no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, no Campus sede da Unimontes, algumas das principais referências nacionais no estudo das leishmanioses. Entre elas, esteve presente o professor Vítor Márcio Ribeiro, médico veterinário e pesquisador do grupo de estudo em leishmaniose animal, do qual é vice-presidente nacional; e o professor doutor Sílvio Fernandes Guimarães, médico infectologista, consultor do Ministério da Saúde e responsável pelo tratamento da leishmaniose visceral no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), sediado em Montes Claros.

A coordenadora do Nuveast, Agna Menezes, assinala que a realização do Simpósio proporciona a disseminação e o aprofundamento dos conhecimentos sobre as leishmanioses, a troca de experiências entre pesquisadores ligados a instituições de ensino superior com profissionais de várias outras áreas do conhecimento, inclusive atuantes em órgãos governamentais como a SES-MG. "A iniciativa possibilita o avanço dos estudos e o aprimoramento das ações voltadas ao atendimento de pacientes diagnosticados com algum dos tipos da leishmaniose”, conclui Agna Menezes.

A superintendente regional de saúde de Montes Claros, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, reforça a importância da interação entre a SES-MG, Unimontes e profissionais de outras instituições voltadas para o aprofundamento das discussões sobre as leishmanioses. "Trata-se de um problema de saúde pública, cujo combate e controle precisa de forte articulação entre os serviços de saúde, as instituições de ensino que detêm conhecimento científico e profissionais de várias áreas do conhecimento, tendo em vista a importância de ser assegurada a devida assistência aos pacientes acometidos pela doença", salienta a superintendente.

Por sua vez a professora Thallyta Maria Vieira, organizadora do Simpósio, destaca a pluralidade do público participante. “Dentro da universidade, conseguimos reunir médicos, veterinários, enfermeiros, biólogos e outros profissionais que passam a dialogar com o mesmo olhar para a saúde única”, acrescenta.

Pontos críticos

Durante a palestra, o professor Vítor Ribeiro destacou os pontos mais críticos que fazem com que a Leishmaniose seja uma das prioridades de ações na saúde pública. “São dois tipos da doença e ambos são extremamente graves para os seres humanos. A leishmaniose visceral tem uma letalidade considerável e a leishmaniose tegumentar pode causar a deformação das pessoas, com tratamentos tóxicos e de evolução prolongada. Além do risco iminente à vida do paciente, o tratamento tem um valor financeiro elevado, com hospitalização, medicação e a pessoa para de produzir porque não tem como trabalhar”, enfatizou o professor.

Segundo Vítor Ribeiro, a melhor maneira de se combater a Leishmaniose é dar dignidade nas condições de vida, especialmente para a população mais carente, que vive em situação mais vulnerável aos riscos da doença. “A questão é mais séria do que se pensa porque envolve o contexto físico, cultural e o educacional. O Brasil ainda não aprendeu a cuidar melhor de seus ambientes e a cuidar melhor dos seus animais, para que esses agentes infecciosos sejam controlados”, pontuou. Sobre a iniciativa da realização do simpósio, o professor frisou a importância do debate na academia, aliado à busca de experiências com profissionais de diversas outras áreas do conhecimento.

Segundo a Unimontes, os simpósios serão realizados regularmente pelo Centro de Pesquisa em Doenças Infecciosas. A próxima temática estará associada à doença de Chagas que, como a Leishmaniose, tem grande incidência no Norte de Minas. Por isso, o incentivo ao debate e aos estudos em nível local e regional terá a participação de especialistas de renome nacional.

A doença

A Leishmaniose Visceral (LV) é uma doença infecciosa grave, sistêmica e fatal se não tratada, considerada de grande importância para a saúde pública. É causada pelo protozoário Leishmania chagasi, transmitida pelo vetor Lutzomia longipalpise que possui como principal reservatório na área urbana os cães. A ocorrência da LV é descrita em Minas Gerais na região Norte desde a década de 1940 e, no Vale do Rio Doce, desde 1960. A partir da década de 1980 a LV se expande para o ambiente urbano.

Os principais sintomas da doença são: febre de longa duração; aumento do fígado e baço, perda de peso, fraqueza, redução da força muscular e anemia. Apesar de grave, a leishmaniose visceral tem tratamento gratuito e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Já a Leishmaniose Tegumentar (LT) é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca úlceras na pele e mucosas. A doença é causada por protozoários do gênero Leishmania. A doença é transmitida ao ser humano pela picada das fêmeas de flebotomíneos (espécie de mosca) infectadas. Os insetos, dependendo da localização geográfica, são conhecidos como mosquito palha, tatuquira e birigui.

Os sintomas da Leishmaniose Tegumentar (LT) são lesões na pele e/ou mucosas. As lesões de pele podem ser única, múltiplas, disseminada ou difusa. Elas apresentam aspecto de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor. O SUS oferece tratamento específico e gratuito para a Leishmaniose Tegumentar, com uso de medicamentos específicos, repouso e uma boa alimentação.

Por Pedro Ricardo