Quando se fala em indicadores que revelam o desenvolvimento de uma sociedade, a mortalidade materna e infantil pode ser vista como um retrato do processo histórico e social do país. No caso do Brasil, esses indicadores ainda configuram um grande desafio para a saúde pública, tanto na instância da gestão quanto na da assistência, assim como para a sociedade como um todo.

Diante dessa situação e em decorrência do Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna (28 de maio), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) promove nesta terça e quarta-feira (22 e 23 de maio), o Encontro de Prevenção da Mortalidade Materna e Infantil.

O evento tem como objetivo analisar critérios que evitem os óbitos, além de formular ações educativas e preventivas que contribuam para a redução dos indicadores. Participam do Encontro mais de 80 pessoas, entre referências técnicas das áreas da vigilância do óbito e assistenciais das 28 Regionais de Saúde de Minas Gerais, além de membros do Comitê Estadual de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal (CEPMMIF) e diversos profissionais da área da saúde. Clique aqui e confira a nossa galeria de fotos.

Crédito: Marcus Ferreira / SES-MG.

“Por serem indicadores muito sensíveis, quando falamos no grande desafio de reduzir os números, temos que também pensar no significado que permeiam essas estatísticas. Nós sabemos que as mortalidades materna e infantil representam, de uma forma muito clara, questões relacionadas às desigualdades. As taxas nos reportam muito facilmente ao recorte da restrição e violação dos direitos humanos de mulheres e crianças e a discussão que o Encontro pretende permitir é essencial para o enfrentamento dessa realidade”, avaliou a professora da UFMG e consultora da Coordenadoria de Atenção à Saúde das Mulheres e Crianças da SES-MG, Regina Aguiar.

A importância de unir o conhecimento das áreas da Vigilância e Assistência à Saúde foi ressaltada durante a abertura do evento. Para a assessora da subsecretaria de Vigilância e Proteção à Saúde da SES-MG, Adelaide Bessa, os Comitês possuem o grande desafio de formular ações que possam reduzir a mortalidade evitável. “Esse encontro é uma oportunidade para fazermos uma avaliação das ações que já existem e formularmos novas propostas que abaixem os índices em Minas Gerais e melhorem, assim, a qualidade da saúde das mulheres e das crianças”, frisou.

Já a coordenadora de Atenção à Saúde das Mulheres e Crianças da SES-MG, Karla Caldeira, deu destaque às ações conjuntas e à sensibilidade dos indicadores. “A gente precisa estar sempre lembrando que uma morte tem uma repercussão muito grande, por isso ela não pode ser vista apenas como um número. Ela tem um impacto muito grande na família e na sociedade e, por isso, a discussão deve ser permanente”, ressaltou Karla.

Impacto social dos óbitos

A conferência de abertura foi conduzida pela ativista de direitos humanos e do movimento negro, Diva Moreira. Com a temática “Sobre mortalidade materna e neonatal: um olhar sobre as mães negras”, Diva falou sobre os determinantes históricos e sociais da saúde de nosso país, que muitas vezes conduzem à “invisibilidade” de diversas mortes maternas, principalmente na população negra.

“Para sabermos para onde vamos no que diz respeito à redução da mortalidade materna, infantil e neonatal em nosso estado, é preciso resgatar um pouco da nossa história. História essa que foi e que é sistematicamente negada e ocultada nos livros didáticos. E isso é muito grave, pois se não conhecemos os fundamentos históricos, que mostram como a medicina já retratava o racismo e as mulheres negras em épocas anteriores, nós vamos continuar repetindo essas causas indefinidamente”, alertou a ativista.

Crédito: Marcus Ferreira / SES-MG.

Um dos índices destacados por Diva Moreira durante sua palestra foi a maior taxa de cesárea na raça/cor branca (49%), quando comparado à raça negra (28%). Para ela, dados como esse são um convite à reflexão, uma vez que podem revelar diferenças sociais e até mesmo de resistência à dor. “Esse menor número de partos cesáreos em mulheres negras estaria atrelado à visão de um novo nascimento e de incentivo ao parto normal, ou o que estaria acontecendo?”, ponderou.

Diva propôs ainda uma reflexão sobre esses e outros dados que mostram diferenças entre a população branca e negra e uma grande análise dos fatores que estão por trás dos números. “Nunca digam que isso é algo natural. Ninguém precisa morrer por parir. Parir é abertura para a vida, para a felicidade, e não para a morte”, destacou.

Mortalidade em Minas Gerais

O Estado de Minas conseguiu, nos últimos anos, ter progressiva redução no índice de morte materna. Em 2010, a razão de mortalidade materna era de 47 e, em 2016, a razão foi de 41,4. O cálculo da razão de mortalidade materna é realizado a partir do número de mortes maternas sobre 100.000 nascidos vivos. Clique aqui e confira as ações da SES-MG de promoção à Saúde da Mulher.

 

Por Ana Paula Brum