A Regional de Saúde de Ponte Nova, por meio dos Núcleos de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador e de Vigilância Sanitária, promoveu, na última terça-feira (14/01), no Hospital São João Batista (HSJB), em Viçosa, um treinamento voltado ao alinhamento das práticas de segurança do paciente aliadas a prescrição, dispensação e administração de soros. O encontro contou com a participação de representantes da equipe médica, de enfermagem, farmácia e diretoria.

Crédito: Tarsis Murad

A referência técnica em Imunização, Thiany Silva Oliveira, ficou a cargo da palestra “Cuidados na Administração de Soros”, iniciando com a definição de conceitos chave para o entendimento do uso de soros, como imunização, vacinação e produção e fabricação de imunoglobulinas, bem como suas indicações. 

A palestrante orientou sobre cuidados importantes na administração de soros, sobretudo com acidentes ofídicos (serpentes), escorpiões e aranhas, incluindo a presença de manifestações clínicas locais ou sistêmicas; características de cada envenenamento; tempo decorrido entre o acidente e o atendimento e suas circunstâncias; especificidade do soro de acordo com o tipo de veneno do animal que provocou o acidente; conformidade de doses, prevenção e notificação de eventos adversos, entre outras.

Thiany esclareceu quanto aos sinais e sintomas, classificação (leve, moderado e grave), manifestações clínicas, tipo de soro e quantidade de ampolas a serem prescritas, conforme cada caso. Ela ainda teceu algumas considerações gerais, como o fato de que a administração de soros não produz imunidade. Além disso, informou: “Mesmo havendo atendimento tardio, deve ser considerada a possibilidade de soroterapia, analisada conforme as diretrizes e protocolos do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde. Também é importante acrescentar que todo atendimento de acidentes com animais peçonhentos, tratamento profilático de raiva humana e uso de demais imunoglobulinas devem ser notificados à Vigilância Epidemiológica”.

Encerrando sua participação, a representante da Regional de Ponte Nova pontuou algumas sugestões de organização de processos de trabalho, como a identificação do nome, lote, data de validade e via de administração do soro; dupla checagem durante a dispensação na farmácia feita pelo farmacêutico da unidade; treinamento do POP de checagem de medicamentos; e disponibilidade de bula e protocolos de tratamentos para todos os soros disponíveis, em fácil acesso para os profissionais de saúde.

Segurança do Paciente

A segunda parte do treinamento, intitulada “Segurança do Paciente: Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos”, foi conduzida pela referência técnica do Núcleo de Vigilância Sanitária, Rafaela Alves. Ela trouxe alguns dados sobre o assunto, ressaltando a responsabilidade de cada instituição e de cada profissional de saúde quanto a ocorrência de eventos adversos.

Estatísticas do Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente relativas ao ano de 2016 apontam que 829 brasileiros falecem, todos os dias, em decorrência de condições adquiridas nos hospitais, o que corresponde a três mortes a cada 5 minutos. “É a segunda causa de mortes no Brasil, superior ao somatório das mortes causadas por câncer, violência e acidentes de trânsito”, alertou.

Outras informações apresentadas foram extraídas de relatório do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, como o falecimento de 302.610 brasileiros em hospitais públicos ou privados como consequência de um “evento adverso”, apenas em 2016, e 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais ao longo do mesmo ano, sendo que 1,4 milhão foram “vítimas” de ao menos um evento adverso. “No processo de vigilância em saúde, é preciso que aliemos o pensar técnico, gerencial e administrativo, visando evitar erros de prescrição, dispensação, administração e monitoramento de reações. A fim de minimizar tais eventos, podemos adotar uma série de condutas e procedimentos que, via de regra, não oneram as instituições que as executam”, ressaltou.

Como exemplos, Rafaela citou a instituição da dupla checagemno processo de prescrição, preparo e dispensação, a leitura criteriosa de rótulos, as boas práticas de armazenamento, fracionamento e manipulação de medicamentos, entre outras. “A simples adoção de uma grafia especial para medicamentos com nome e som semelhantes, como a utilização de caixa alta, já é bastante eficaz quanto à diminuição da incidência de erros. Apenas para ilustrar, temos o Floratil, que é um antidiarreico, e o Foradil, que é um broncodilatador, nomes muito passíveis de equívoco caso não seja dispensada a devida atenção à prescrição”.

Para a responsável técnica de Enfermagem do HSJB, Luciane Moreira Asevedo, o treinamento foi de grande valia, já que envolveu “a participação multiprofissional de diversas equipes, compreendendo o papel de cada um dentro do processo de segurança do paciente relacionado à administração de medicamentos”. Já a enfermeira coordenadora do Núcleo de Segurança do Paciente, Elisnanda Marina de Souza, disse que o encontro foi gratificante pelas instruções e pela adesão de participantes muito acima do esperado. “Isso reflete a responsabilização de cada profissional, o que favorece a melhoria contínua do hospital como um todo”. 

Por Tarsis Murad