O Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig, é o primeiro hospital de Minas Gerais a registrar em prontuário os atendimentos em práticas integrativas e complementares em saúde (PICS). Ao adotar a medida, a unidade documenta a evolução dos quadros de saúde dos pacientes atendidos e consolida a atenção integral.

Em apenas seis meses após a introdução das PICS em sua rotina assistencial, o HEM já apresenta resultados significativos e coleciona evidências da evolução positiva dos quadros de saúde das mais de 500 pessoas atendidas pelo serviço, entre pacientes e profissionais da unidade.

“Há evidências da melhoria do quadro clínico dos pacientes, principalmente em relação à ansiedade, dor e insônia. Embora ainda seja pouco tempo de tratamento, percebe-se a redução dos medicamentos e o bem estar geral dos pacientes”, salienta a coordenadora do serviço, a farmacêutica e aromaterapeuta, Jesiane Lucas.

Nesse primeiro momento, os servidores do hospital representam 70% dos atendimentos em PICS. Eles integram ação de qualidade de vida no trabalho, que propõe cuidar dos profissionais que cuidam dos pacientes (Cuidar de quem Cuida), de modo a potencializar a atuação desses indivíduos e contribuir para a melhoria das relações interpessoais envolvendo servidores e pacientes.

Mudança de vida

O aposentado Aldo Barcelos, de 70 anos, é um bom exemplo da efetividade das PICS. Paciente do ambulatório de dermatologia do HEM há aproximadamente 10 anos, ele apresentava uma ferida que não cicatrizava e mantinha-se há 34 anos. Em razão desse quadro, com o início dos atendimentos com as PICS, ele foi encaminhado ao serviço. Após pouco mais de três meses de aplicação de Reiki, a ferida cicatrizou quase por completo. Além disso, sua dificuldade para dormir e a ansiedade reduziram de forma expressiva e ele deixou de usar ansiolítico.

Créditos: Alexandra Marques

“Eu falo sobre o Reiki no posto de saúde, e todo mundo quer vir para cá. Estou amando o Reiki, a gente melhora para tudo. Agora falta só um pouquinho para a ferida fechar completamente”, revela Aldo. “A gente pode chegar triste, que sai daqui contente”, afirma o aposentado.

Assim como Aldo, a diarista Ana, de 56 anos, experimentou uma grande mudança em seu quadro clínico após iniciar o tratamento com as PICS há também três meses. Portadora de HTLV (retrovírus causador de infecções e câncer), sentia dores muito fortes em todo o corpo, com dificuldade de locomoção e uso de muletas, entre outros sintomas que a levaram a tentar suicídio duas vezes. Encaminhada para o Reiki apresentou melhora significativa e não necessita mais das muletas.

“Cheguei aqui chorando e agora estou sorrindo. Com o Reiki, eu aprendi a me amar e a me respeitar. As pessoas daqui estão me fazendo muito bem, eles me recebem com um sorriso maravilhoso. Eu acordo mais disposta, me sinto bem. O Reiki significa tudo para mim, ele está mudando a minha vida”, revela Ana.

Política de saúde

O Serviço de Práticas Integrativas e Complementares do HEM, denominado Grupo Ânimus, teve início em junho deste ano e conta com 16 terapeutas que trabalham com aromaterapia, auricoterapia, barra de acess, constelação familiar, massoterapia, reiki, thetahealing, musicoterapia e acupuntura.

Segundo a coordenadora da Política de Práticas Integrativas e Complementares da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a enfermeira e mestre em Enfermagem Gelza Matos, o Brasil é o único país onde as práticas integrativas e complementares são institucionalizadas como política de saúde. “Por isso, o Brasil é a menina dos olhos da OMS”, assegura a coordenadora. Ainda segundo Gelza, desde 2009, Minas Gerais é o único estado do país que tem uma coordenação estadual e uma política específica para as PICS.

Nesse contexto, o Hospital Eduardo de Menezes se destaca. “Ao registrar as práticas integrativas no prontuário, o HEM assume papel pioneiro no estado”, ressalta a mestre em Enfermagem.

No Brasil, desde 2006, há uma política nacional em relação às PICS. Em decorrência disso, elas estão regulamentadas e são realizadas de forma integrada, o que garante a segurança do paciente. Com a implantação dessa política, o acesso dos usuários tem crescido. Atualmente, há 29 PICS no rol de práticas do Ministério da Saúde.

Créditos: Alexandra Marques

As evidências revelam, por exemplo, que a acupuntura tem os mesmos efeitos que os corticoides e opioides, sem os efeitos colaterais dessas drogas. Segundo Gelza, que também integra o Consórcio Acadêmico Brasileiro para Saúde Integrativa e dirige a Rede PICS Minas, “a alopatia não é tudo”.

Desde setembro deste ano, o consórcio, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), prepara um mapa de evidências de sete práticas, com trabalhos que envolvem pesquisadores de todo o país. A previsão é que o mapa fique pronto em março do ano que vem.

Modelo de saúde

As PICS permitem o descalonamento dos medicamentos alopáticos, o que tem impacto imediato na saúde e na qualidade de vida do paciente. “As PICS são um modelo de saúde, não um modelo de cura. É o indivíduo que é tratado, sua saúde é o foco, a partir daí, ele experimenta um processo de cura”, esclarece Gelza.

Segundo ela, as PICS são usadas de forma integrativa e não apenas paliativa, pois permitem a recuperação mais rápida dos pacientes, além de promoverem e recuperarem a saúde por meios não invasivos. “As PICS não estão à margem, elas são usadas em um grande número de países do mundo. Elas têm CID, o que reforça sua relevância, e há guias clínicos de práticas, dentre outros aspectos”, reforça a pesquisadora. “As PICS conseguem que as pessoas mudem seus hábitos. Isso é o fator mais significativo, pois é o mais difícil de conseguir”, explica Gelza.

A OMS conta com uma estratégia de PICS desde 2014. Desde então, ela tem investido na América do Sul para a recuperação dos saberes tradicionais da região. Além disso, em todo o mundo, as publicações científicas sobre PICS têm crescido de forma significativa.

Por Alexandra Marques / Fhemig