De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios, registrando, em média, 11 mil casos por ano. Esses dados representam 31 mortes por dia, sendo o número de homens quase quatro vezes maior que o de mulheres e a segunda causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos.

Essa realidade destaca a importância em se buscar estratégias que possam minimizar essas situações e falhas para prevenir e reduzir esse agravo, com uma abordagem de saúde pública, além de reforçar estratégias de prevenção que já sejam desenvolvidas.

Pensando nisso, o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) desenvolveram em 2015 a campanha brasileira Setembro Amarelo, celebrada todo dia 10 de setembro. O objetivo da iniciativa é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio, além de divulgar o tema e reforçar junto à população a importância de discutir sobre o assunto. Na campanha de 2019, para estimular os debates, a SES-MG irá repercutir o tema “Combater o estigma é salvar vidas” em suas redes sociais.

Suicídio em Minas

A Diretora de Vigilância de Condições Crônicas da SES-MG, Janaina Passos de Paula, explica que da mesma forma que ocorre mundialmente e no Brasil, em Minas Gerais observa-se um aumento dos números de registros de suicídio e das notificações das tentativas de suicídio.

“Em ambos os sexos, as notificações de lesões autoprovocadas estão concentradas na população de 15 a 59 anos e, em Minas Gerais, o número é maior entre as mulheres. Em 2018, foram registradas 9.633 tentativas de mulheres e 4.333 tentativas de homens. Já em 2019, até o momento, 2.558 tentativas de mulheres e 1086 de homens foram registradas no estado”, explica Janaina Passos.

Arte: Nivaldo Junior

Já com relação à mortalidade por suicídio, diferentemente das notificações de lesões autoprovocadas, o sexo masculino apresenta o maior quantitativo de óbitos por esse agravo em Minas Gerais.

Em 2018, foram 1.127 óbitos masculinos no estado e 307 óbitos femininos, em 2019, até o momento, foram 591 óbitos masculinos e 141 óbitos femininos.

Notificação dos casos

A partir de 2009, a notificação de violências foi inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o que colaborou com a expansão do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) e garantiu a sustentabilidade da notificação de violências. O processo de implantação ocorreu de modo gradual e por adesão de estados e municípios de acordo com a estruturação da área de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (VDANT).

Janaina Passos explicar que “pela Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017, as notificações da tentativa de suicídio devem ser realizadas em até 24 horas visando tomada rápida de decisão, como o encaminhamento e vinculação do paciente aos serviços de atenção psicossocial, de modo a impedir que um caso de tentativa de suicídio se concretize”.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais realiza a análise e qualificação dos dados da ficha de notificação de Violências Interpessoais e Autoprovocadas e disseminação das informações das tentativas de suicídio e suicídio no território mineiro, dessa forma, a notificação das tentativas de suicídio já é uma prática dos serviços de saúde e a vigilância desse agravo deve ser realizada de forma a organizar as ações de prevenção, assistência e cuidado.

Acolhimento e acompanhamento pelo SUS

De acordo com a referência técnica da coordenação estadual de Saúde Mental, Lírica Salluz Mattos, a SES-MG vem realizando ações para a implantação e fortalecimento dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), modelo de atenção em saúde mental, a partir do acesso e a promoção de direitos das pessoas, baseado na convivência dentro da sociedade. Além de mais acessível, a rede ainda tem como objetivo articular ações e serviços de saúde em diferentes níveis de complexidade. “Consideramos ser uma ação estratégica a implantação de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) nos municípios, pois de acordo com dados do Ministério da Saúde, nos locais onde existem Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), o risco de suicídio reduz em até 14%. “No entanto, a Atenção Primária à Saúde como a ordenadora do cuidado na rede, dispõe de equipe multiprofissional que pode acolher a demanda dos usuários e realizar o acompanhamento longitudinal, inclusive os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) atuam de maneira integrada e compartilhada com os diversos pontos da rede ”, explica Lírica Mattos.

Ainda segundo a referência técnica, a lógica de cuidado dos casos de saúde mental, perpassa pelo acolhimento e acompanhamento nos diversos serviços da RAPS em consonância com a demanda do usuário.

As ações de saúde nas UBS e CAPS incluí abordagem multiprofissional, que pode incluir o profissional psiquiatra ou psicólogo, entre outros. O acompanhamento psicossocial é realizado por intermédio de intervenções terapêuticas individuais ou em grupo, sendo construído um Projeto Terapêutico Singular que envolve a equipe, o usuário e sua família.

Por Fernanda Rosa