Nesta quarta-feira (06/06) é comemorado o Dia de Luta contra Queimaduras. A data foi instituída com o objetivo de destacar a importância dos cuidados necessários para se evitar acidentes com fogo. A Unidade de Tratamento de Queimados Professor Ivo Pitanguy, localizada no Hospital João XXIII, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), é referência nacional no atendimento a pacientes queimados, e participa da campanha em 2018, assim como nos anos anteriores, com o tema “Segundos de distração deixam marcas sempre”.

As ações, desenvolvidas por profissionais do HPS e que mobilizaram crianças, adultos e pacientes do próprio hospital, tiveram início pela manhã em frente à Administração Central, com a chegada do grupo de voluntários “Carinhólogos Solidários” no carro de bombeiros. Logo depois, foi realizada também uma coletiva de imprensa no auditório do Hospital, que contou com a presença do diretor do Hospital João XXIII, Sílvio Grandinetti, do gerente assistencial, Marcelo Lopes Ribeiro, do chefe da UTQ, Rodrigo Sizenando e do Tenente Pedro Aihara, do Corpo de Bombeiros.

Crédito: Anni Sieglitz / Fhemig.

“Minas Gerais vive uma realidade diferenciada, por ter um hospital de ponta como o HPS para receber estes pacientes queimados”, afirma o Tenente Pedro Aihara, que destacou a importância da disseminação da informação, principalmente para crianças. “A maioria dos acidentes com queimaduras é evitável. É preciso falar constantemente sobre os lugares e circunstâncias em que eles ocorrem”, completou. A ação dos Carinhos Solidários continuou após a coletiva, com distribuição de abraços grátis e visita às crianças das enfermarias.

Expertise

Ao fazerem os alertas de prevenção contra queimaduras à população por meio destas ações, os profissionais do HPS recorrem aos impressionantes números de atendimento no HJXXIII. Somente em 2017, foram mais de 2100 atendimentos a pessoas queimadas – 33 pessoas morreram. Em 2018, até maio, foram 963 atendimentos.

Um dos exemplos mais graves ocorridos no último ano, que consternou o país e mobilizou todo o HJXXIII, foi o atentado de Janaúba, motivo pelo qual 15 vítimas (13 das quais eram crianças), foram levadas ao HPS com graves queimaduras. Na ocasião, o plano de Atendimento a Desastres foi acionado (situação que ocorre quando múltiplas vítimas dão entrada no hospital), mudando a rotina do hospital e o direcionamento de pacientes – muitos foram levados diretamente para o nono andar (CTI de Queimados) no atendimento de emergência, o que normalmente não ocorre. “Aprendemos muito com a tragédia de Janaúba, principalmente pelo grande número de crianças envolvidas”, afirma o gerente assistencial do Hospital João XXIII, Marcelo Lopes Ribeiro.

Para atender pacientes queimados, é necessário um trabalho intenso de assistência, que envolve uma equipe multidisciplinar formada por médicos de diversas especialidades, enfermeiros e técnicos de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, assistentes sociais, dentre outros.

De acordo com Marcelo Lopes Ribeiro, nos últimos anos profissionais de diferentes áreas ampliaram significativamente sua atuação no setor de queimados. “A ‘multi’ foi um divisor de águas no hospital, oferecendo uma melhor linha de cuidado para o paciente, que principalmente por causa da dor, se move muito pouco e necessita de estímulos variados”, ressalta o gerente assistencial.

 

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Perfil Epidemiológico

Quem é o paciente que chega ao Hospital João XXIII com queimaduras? De acordo com os dados de atendimento da unidade, a maioria das vítimas são mulheres (11% a mais que homens), e tem 20 a 40 anos. A principal causa de acidentes que levam a queimaduras continua sendo o líquido livre – foram 1136 casos em 2017. Estes acidentes são recorrentes com crianças, e diferentes dependendo da faixa etária.

De 0 a 02 anos, há as queimaduras nas banheiras. “36º é uma temperatura morna para os pais, mas para o bebê é muito quente e queima. A pele dele é extremamente sensível”, alerta o médico. Já a partir dos 02 anos, quando o pequeno já está andando, começam os acidentes na cozinha, quando ele entra e puxa as panelas do fogão. As queimaduras estão entre as principais causas de acidentes domiciliares fatais na faixa etária de 01 a 09 anos de idade - somente em 2017, 335 crianças deram entrada no HPS com queimaduras. 52% dos acidentes com queimaduras são domésticos.

No caso dos adultos, as queimaduras com álcool são as mais incidentes, e ocorrem em todo tipo de ambiente: na churrasqueira, na cozinha, na sala (aquecimento de lareira) e em várias outras situações. Márcia Cristina dos Santos, tia do paciente Pedro Lucas, de 16 anos, vivenciou uma triste situação há exatamente um mês, em 06 de maio, quando a família fazia um churrasco de domingo. O seu cunhado foi jogar um galão de álcool na churrasqueira, e uma explosão aconteceu, deixando cinco feridos, inclusive uma criança.

“Não desejo este sofrimento para ninguém. A estrutura para um churrasco deve ser boa e deve-se ter muito cuidado. Melhor comprar pronto”, avaliou. Para Marcelo, o álcool deve ser abolido para uso doméstico. “Você não precisa de álcool para quase nada. Para acender churrasqueiras, por exemplo, há acendedores mais baratos que o álcool. É totalmente cultural”, afirma. O álcool em gel também tem sido motivo para várias queimaduras, que podem ser até piores, pois pela sua textura gelatinosa, ele é altamente inflamável.

Crédito: Anni Sieglitz / Fhemig.

Agressões físicas, tentativas de autoextermínio e choques elétricos também são motivos comuns de entrada de pacientes queimados. “As agressões têm sido tão recorrentes quanto os acidentes”, destacou a enfermeira Izabela Honorato, que lembrou também da ligação direta de pacientes psiquiátricos com os acidentes com fogo, e também do grande número de idosos queimados que chegam à unidade.

No caso dos choques elétricos, há muitas situações de “maridos de aluguel”, homens que, sem a devida capacidade técnica, tentam consertar aparelhos elétricos, e de trabalhadores que não tomam os devidos cuidados e não prestam atenção no ambiente ao seu redor. Foi o caso do podador Juliano Santos, que estava trabalhando em cima de uma árvore e não observou uma fiação atrás dele. O choque só não foi mais grave porque ele estava equipado.

“Cheguei a desmaiar, e quando acordei foi que vi o que tinha acontecido. Acidentes com choque elétrico são muito graves, mas no meu caso as luvas protegeram um pouco”, contou, aliviado. Situações envolvendo crianças que tomam choque colocando o dedo na tomada, mordendo o carregador que estava plugado ou soltando pipa também levam muitas demandas ao HPS.

 

 

Por Fhemig /ASCOM