Referências técnicas da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), do Hospital Universitário Clemente de Faria e da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros reforçaram, nesta quinta-feira (28/02), a necessidade dos municípios norte-mineiros intensificarem as ações de eliminação dos focos de proliferação do Aedes aegypti, bem como a notificação das doenças transmitidas pelo mosquito a fim de reduzir as possibilidades de ocorrência de uma epidemia na região. O alerta foi dado durante a realização do Seminário Regional sobre Dengue, Zika vírus, Febre Chikungunya e Febre Amarela, organizado pela Regional de Saúde de Montes Claros. O evento reuniu, no auditório da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene – (Amams), médicos, enfermeiros e coordenadores de vigilância epidemiológica e da saúde de vários municípios.

Ao apresentar o cenário epidemiológico da dengue, Zika, Chickungunya e da Febre Amarela no Norte de Minas, a coordenadora de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da silva Menezes destacou a necessidade dos municípios registrarem no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – (Sinan) os casos suspeitos das doenças transmitidas pelo Aedes, o que possibilitará à SES-MG e ao Ministério da Saúde auxiliar os municípios em caso de eventual ocorrência de epidemia.

A coordenadora lembrou que, enquanto 18 de um total de 53 municípios que compõem a área de atuação da Regional estão silenciosos quanto ao registro de notificações das doenças transmitidas pelo Aedes, as demais localidades estão em situação de alerta ou na eminência de ocorrência de surtos. “Para evitarmos situações graves, precisamos que os municípios mantenham ações articuladas de controle do Aedes aegypti e a notificação dos casos suspeitos de alguma das doenças transmitidas pelo mosquito, a fim de que, em caso de necessidade, a Secretaria de Estado de Saúde possa atuar junto com o Ministério da Saúde”, ressaltou Agna Menezes.

O Superintendente Regional de Saúde de Montes Claros, Denílson Paranhos Costa, assinalou que “o trabalho de parceria entre os municípios com os governos do Estado e federal é fundamental para que o combate ao Aedes aegypti obtenha os resultados esperados, além de assegurar o atendimento médico das pessoas que porventura venham contrair alguma das doenças transmitidas pelo mosquito”.

Durante apresentação sobre o manejo clínico da dengue, febre Chikungunya e do Zika Vírus, a médica infectologista do Hospital Universitário Clemente de Faria, Cláudia Rocha Biscotto, também reforçou o alerta para a possibilidade de ocorrência, neste ano, de uma epidemia das doenças transmitidas pelo Aedes visto que esse ciclo ocorre a cada três anos. Nesse contexto, a médica salientou que os serviços de saúde dos municípios precisam estar devidamente preparados para atender o aumento do número de pessoas à procura de assistência médica que, no caso da dengue e da febre Chikungunya exige hidratação constante, além de um diagnóstico preciso e com a maior brevidade possível.

Isso porque, explicou Cláudia Biscotto, no caso da dengue o paciente pode vir a óbito num curto espaço de tempo, enquanto que o tratamento da Febre Chikungunya pode ter uma duração de até cinco anos, devido ao fato dos pacientes ficarem incapacitados para o trabalho em virtude da gravidade da doença. “Qualquer paciente morrer por causa de dengue revela falha dos serviços de saúde e isso é possível ser evitado caso as estruturas estejam funcionando de forma adequada e os profissionais de saúde estejam preparados para fazer o diagnóstico correto e com a maior brevidade possível”, frisou a médica.

Febre Amarela

Por sua vez, ao apresentar o manejo clínico de pacientes com suspeitas de terem contraído febre amarela, o médico especialista em medicina de família e comunidade, Mariano Fagundes Neto Soares, destacou que a urbanização dessa doença se deve ao fato de mosquitos que até então viviam em florestas estão se deslocando para os centros urbanos, sobretudo nas regiões de mata atlântica da região sudeste do país.

Créditos: Pedro Ricardo

De acordo com o médico, isso explica o fato de que, na Zona da Mata mineira e na região de Januária, no Norte de Minas, onde está localizado o Parque Nacional do Peruaçu, em 2017, foram registradas ocorrências de morte de macacos. “A iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde DE realizar o Seminário Regional sobre Dengue, Zika Vírus, febre Chukungunya e Febre Amarela nesta época do ano é de fundamental importância no sentido de reforçar junto aos municípios a necessidade do controle dos vetores transmissores dessas doenças. No caso da Febre Amarela, o maior período de incidência ocorre entre dezembro e junho e, com a realização do Seminário, os municípios precisam estar preparados no sentido de reforçar as ações que possam evitar a ocorrência de surto dessa doença”, conclui.

Ainda durante o seminário, referências técnicas da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros apresentaram os seguintes temas: a notificação dos agravos, por parte dos serviços de saúde dos municípios; a coleta e o encaminhamento de materiais para a realização de exames no laboratório macrorregional do Norte de Minas, sediado em Montes Claros; as ações de controle do Aedes aegypti nos serviços de atenção primária dos municípios; a rede assistencial existente no Norte de Minas, voltada para o atendimento de pacientes com suspeitas de terem contraído alguma das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti; o fluxo regulatório que os municípios precisam seguir visando garantir o atendimento dos pacientes nos serviços de saúde de baixa, média e alta complexidade; e apresentação da cobertura vacinal contra a febre amarela no Norte de Minas.

Cenário

Boletim Epidemiológico divulgado nesta segunda-feira (25/02) pela SES-MG revelam que, entre 20 de janeiro a 16 de fevereiro deste ano, já foram notificados 30.352 casos prováveis de dengue e 11 óbitos estão em investigação. Entre os 53 municípios que integram a área de atuação da Regional de Saúde de Montes Claros, 10 localidades apresentam maior incidência de casos prováveis de dengue: Gameleiras; Catuti; Capitão Enéas; Mato Verde; Juramento; Jequitaí; Mamonas; Joaquim Felício; Espinosa e Monte Azul. O Boletim Epidemiológico da SES-MG revela ainda que, neste ano, já foram contabilizados 509 casos prováveis de febre Chikungunya e 145 casos prováveis de Zika vírus.

Para evitar a ocorrência de surtos das doenças transmitidas pelo Aedes, neste ano, a Superintendência Regional de Saúde já atendeu demandas para aplicação do Ultra Baixo Volume – (UBV) pesado, também conhecido como “fumacê”, nos municípios Mamonas, Gameleiras, Mato Verde, Francisco Sá, Capitão Enéas e Juramento. O objetivo é conter o ciclo de reprodução do Aedes aegypti com a eliminação de mosquitos adultos.

Conforme explicou o coordenador de Vigilância em Saúde da Regional de Saúde de Montes Claros, Valdemar Rodrigues dos Anjos, a utilização do UBV se constitui medida extrema, que só é adotada quando se chega a uma situação de falha nas ações preventivas de controle dos focos do Aedes aegypti e que são executadas pelos municípios.

Por Pedro Ricardo