Mulheres transexuais, mulheres lésbicas, mulheres bissexuaia, travestis, enfim mulheres que lutam diariamente por seus direitos como cidadãs e que buscam no SUS um atendimento integral para sua saúde física e psicológica. Essas foram as mulheres que estiveram presentes na Roda de Conversa: Desafios e Vivências Trans e Travestis na Saúde, que a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) promoveu hoje (26/10), na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, como mais uma ação do Outubro Rosa.

Diversas vivências, experiências e narrativas foram trazidas por essas vozes, que provocaram reflexão e debate entre as pessoas presentes. A saúde, como uma visão integral e também acesso digno à educação, ao trabalho e à renda, são questões tão rotineiras, mas que para essas mulheres costuma ser algo muito complexo.

Fernanda Coelho, representante do Segmento de mulheres Bissexuais no Comitê Técnico LGBT, ressaltou a questão da necessidade de fortalecer a identidade B, de bissexual que tem seu lugar e deve ser respeitado. " A lógica da sociedade é uma lógica mono sexista, ou seja, as pessoas heterosexuais, lésbicas e gays são identidades que estão um patamar superior, sendo a heterosexualidade acima e depois os gays e as lésbicas. A bissexualidade é marcada por esteorótipos de prosmicuidade, infidelidade e vetor de doença. Não é o fato de eu ser bissexual que afeta a minha saúde, mas sim essa lógica monosexista e de bifobia. E isso precisa ser descontruído", refletiu ela.

Gisela Pereira, representante do Segmento de mulheres Trans no Comitê Técnico LGTB, ponderou sobre a realidade da mulher trans e sobre a importãncia do uso do nome social, que é o nome que melhor se adequa à imagem da pessoa trans, durante o processo de transformação. "O uso desse nome atualmente é garantido por decretos, ou seja, posso usar esse nome nos espaços federais, municipais e estaduais.  Essa é uma conquista de um movimento social e também pessoal, pois quando você tem seu nome respeitado, você tem mais autonomia", frisou.    

Yasmin Melo, modelo trans que participou da Campanha da Saúde Integral da Mulher, trouxe sua vivência pessoal durante processo de sua transformação e deixou seu racdo. "A saúde da mulher travesti e trans importa sim, e essa participação na Campanha é muito importante para nossa representatividade e visibilidade", contou ela. 

A representante do segmento de Mulheres Lésbicas no Comitê Estadual LGBT, Liliane Martins, trouxe dados de uma pesquisa realizada no Brasil, intitulada Panorama da Saúde das Mulheres Lésbicas e Bissexuais, realizada entre 2008 e 2010 nas unidades de saúde. Essa pesquisa revelou que de 3% a 5% das mulheres que participaram já tiveram alguma experiência de relação com outra mulher ao longo da vida. Outro dado que se evidenciou é de que a procura por consultas ginecológicas é bem maior entre as mulheres que tem uma trajetória sexual com homens, e que, além disso, as mulheres heterossexuais são consideradas pelas pessoas entrevistas como “mulheres mais femininas”.

“A mistura de preconceitos, falta de informação, despreparo das equipes de saúde em tratar essa população é o ponto de partida para que as mulheres lésbicas concentraram nessa pesquisa um índice de saúde pior do que a população feminina heterossexual. A atenção primária, que deveria ser a porta de entrada para prevenção e promoção à saúde, não está devidamente preparada para atender esse público e o problema vem desde a formação dos profissionais, pois não existe uma disciplina que trate das diversidade de gêneros nas universidades”, pontuou Liliane Martins.

Mas, segundo ela, o Estado já apresenta avanços na Política LGBT, como a criação Comitê técnico de saúde integral LGBT, que conta com a participação da sociedade civil. “Esse comitê dá visibilidade e voz a quem há muito tempo tem sido calada e oprimida”, afirmou.

Mais avanços

Além desse importante avanço com a criação do Comitê, a SES-MG promove diversas outras ações para valorizar as mulheres LBT. Em 2017, o Núcleo de Equidades da SES-MG realizou um diagnóstico junto às regionais de saúde, com o objetivo de reunir as percepções dos profissionais de saúde em relação a determinadas populações, entre elas a população LGBT.

Créditos: Ricarda Caiafa

A Assessora do Núcleo de Políticas de Promoção da Equidade em Saúde, Louise de Paula, ressaltou que os dados resultantes desse diagnóstico são muito importantes. “Estamos recebendo diversas percepções. Tem diagnósticos que constam que na regional de saúde pesquisada, não foi identificada nenhuma pessoa LGBT, o que nos parece estranho. Esses dados são essenciais para propor reflexões. Essas populações existem, mas nesses casos elas estão tão invisibilizadas, que não aparecem nem no diagnóstico”, refletiu ela.

Outro marco é que a Vigilância traz agora nos formulários de notificação, o campo para as causas de violência, além do campo de orientação sexual e identidade de gênero. Esse tipo de informação é muito relevante “porque no futuro vai subsidiar uma coleta de dados para entender como está a saúde da população, onde elas morrem mais, quais as causas e como as Políticas de Saúde podem atuar nessa questão”, explicou.

O estado também conta com o Decreto Estadual do Nome Social, que foi publicado em janeiro. Através desse Decreto, todos órgãos estaduais têm de contar com formulários eletrônicos, físicos com a adequação de nome social para ter o campo do nome social.

Recentemente, o ambulatório da Universidade Federal de Uberlândia, que é um ambulatório do processo transexualizador, credenciou-se ao SUS para prestar assistência ambulatorial a esta população. A assistência ambulatorial envolve o acompanhamento clínico, acompanhamento pré e pós-operatório e hormonioterapia.

Além disso, ações específicas e intersetoriais são trabalhadas pelo Núcleo de Políticas de Promoção da Equidade em Saúde. Na atenção básica, por exemplo, as ações são voltadas para a lógica da Educação permanente para o profissional de saúde, para acolher essas diversidades, para respeitar, por mais que ideologias pessoais sejam divergentes. “Nosso esforço diário é pelo respeito e esse é um trabalho de construção coletiva e intersetorial. Aos poucos vamos difundindo, através de uma Educação Permanente não só na vida profissional, mas também na pessoal, para acolher e respeitar a diversidade”, finalizou ela. 


Saúde em Cena

Créditos: Ricarda Caiafa

Também na tarde desta quinta-feira (26), os trabalhadores da Camg puderam ver mais uma encenação do Grupo de Teatro Saúde em Cena.

Nessa apresentação, a peça intitulada Gotas da Paixão conta a história de quatro personagens: Tia Detinha, uma mulher moderna e antenada que cuida da sua saúde, Tia Afonsina, uma senhora atrapalhada, o sobrinho adolescente Maygaver e seus problemas da idade, e ainda, um personagem que chega e vai mudar tudo.

A temática do Outubro Rosa foi abordada e eles deixaram o recado para as mulheres de que o sempre é o momento ideal para cuidar da sua saúde.

Por Ricarda Caiafa