Ontem (08), pela manhã, a Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), realizou na Escola Sindical Sete de Outubro, em Belo Horizonte/MG, a abertura das “Oficinas de Vigilância e Promoção à Saúde em Áreas de Reforma Agrária”, que visa a capacitação de 73 alunos, sendo 40 assentadas de áreas de reforma agrária nos territórios de Minas Gerais e 33 trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS).

A atividade inicial se despiu das usuais formalidades institucionais dando espaço a uma calorosa e emocionante mística das integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vindas de norte a sul do Estado que entonaram cantigas e poesias exaltando as mulheres e homens do campo, a urgência da Reforma Agrária no Brasil, o direito a alimentos sem veneno e uma saúde integral e popular.

O diretor-geral da ESP-MG, Edvalth Rodrigues Pereira, deu as boas-vindas aos alunos e destacou que essa é a segunda ação desenvolvida pela Escola em parceria com o MST (Em 2014, foi realizada ação “Cuidados em Saúde Mental: Diálogos entre o MST e o SUS) e afirmou que o Governo do Esatdo de Minas Gerais e a ESP-MG estão abertos para as parcerias com movimentos sociais. “Somos parceiros e queremos reforçar ainda mais esses laços. Essa oficina de hoje é resultado de muito esforço dos trabalhadores da ESP. O dia de hoje é de vocês, de cada um que de seu modo, com sua experiência e vontade contribui para esse momento”, disse.

Mercedes Zuliane, da Direção Nacional do MST – Setor Saúde, falou da importância das oficinas e da bandeira única, “SUS – Nenhum Direito a Menos" na construção de um projeto de sociedade mais humana e igualitária. “Quem produz os alimentos precisam participar das proposições na saúde pública. Nesse momento antidemocrático que vivemos, nossa luta será ainda maior para a saúde ser direito e não mercadoria”, afirmou.

Desafios e reflexões nos territórios

Os participantes das oficinas são trabalhadoras assentadas de oito territórios mineiros(Metropolitana, Vale do Rio Doce, Leste de Minas, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Norte de Minas, Centro Oeste, Zona da Mata e Sul de Minas) e trabalhadores do SUS ligados a Atenção Básica, Vigilância em Saúde e Saúde do Trabalhador, atendendo 27 municípios mineiros.

A médica Flávia Rodrigues de França, que atua em Governador Valadares (Vale do Rio Doce) pelo Programa Mais Médicos é uma das alunas. Ela cresceu no assentamento Oziel Alves, no mesmo município e com 19 anos foi para Cuba cursar Medicina. Após seis anos de estudos, ela retornou para o Brasil, se especializou em Saúde da Família e hoje atende em uma unidade de saúde. “Sou filha de assentados. Hoje sou médica pela luta do MST e pela parceria com Cuba em formar médicos em toda a América Latina, principalmente jovens da classe trabalhadora para que a medicina possa chegar onde ela não chega, de forma humanizada e carregada de valores como a solidariedade. Minhas expectativas para a oficina são as melhores, pois a defesa do SUS é diária”, disse.

A integrante do MST, também do assentamento Oziel Alves, Terezinha Sabino de Souza, disse que nesses quatro dias de atividade a disposição em aprender, a lutar e ter sempre mais saúde. “Ser membra do MST é ser lutadora, ser estudiosa, uma cuidadora, é ser uma resgatadora de pessoas que acham que não tem outra alternativa na vida. É ser uma esperançosa que o projeto para a classe trabalhadora é possível, por uma sociedade mais igualitária, e que de fato a terra seja o instrumento de trabalho, de vivência dos trabalhadores e não de opressão e violência”, finalizou.

As oficinas

A ação é uma parceria com a Subsecretaria de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), que foi representada por Marta de Freitas, da Diretoria de Saúde do Trabalhador e Lisandro Carvalho de Almeida Lima, chefe de gabinete da SES-MG. O vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais, Ederson Alves da Silva, também participou da abertura. 

O objetivo é contribuir para o desenvolvimento de ações de promoção, prevenção e cuidado em saúde de populações assentadas e acampadas em áreas de reforma agrária no estado, tendo como eixos trabalho, saúde e ambiente.

As oficinas acontecem em dois módulos, o primeiro de 08 a 11 agosto e o segundo de 17 a 20 de outubro de 2017. As oficinas seguem até sexta-feira (11), com visita ao Sítio das Mangueiras, em Florestal (Região Metropolitana de Belo Horizonte), para aprendizado das experiências com produção agroflorestal.

Por Silvia Amâncio