Ousadia, coragem, resistência e pluralidade foram algumas das fortes palavras que fizeram parte do discurso das palestrantes da mesa de abertura da 1ª Conferência Estadual de Saúde das Mulheres, que ocorreu na tarde desta segunda-feira (10/7), no Minascentro, em Belo Horizonte, e contou com a participação do grupo Cigarras Cantora do Vitória. Clique aqui e confira a nossa galeria de fotos.

A proposta inicial, que era discutir a situação atual do país e seus impactos na vida das mulheres, ganhou amplitude nas vozes das participantes do evento, demonstrando que aquele era um espaço propício para fortalecimento do debate sobre os direitos das mulheres. 

Coordenada pela conselheira Estadual de Saúde no segmento de trabalhadores, Lourdes Machado, a mesa contou com a participação da conselheira Estadual de Saúde dos representantes de usuárias e usuários pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais e trabalhadora rural, Maria Alves, da presidenta da CUT Minas e coordenadora Geral do Sind-UTE/MG, Beatriz Cerqueira, e da participante da Comissão Nacional Organizadora e de Relatoria da 2ª Conferência Nacional de Saúde da Mulher, Kátia Souto.

Crédito: Marcus Ferreira

A coordenadora da mesa Lourdes Machado destacou que a Conferência teve adesão de 197 municípios e inscrição de mais de 950 pessoas, sendo que um dos critérios era que pelo menos 70% dessas inscrições fossem de mulheres. “A logomarca do evento traz um pouco do que pretendemos alcançar. Ao representar as mulheres em suas várias singularidades, mostramos que somos diversas e que temos anseios diferentes. A discussão, então, é como dar acesso à saúde a essas várias mulheres, em todas as nossas especificidades”, reforçou a conselheira Estadual. 

Dando início aos debates da tarde, Maria Alves, que também representa o quilombo Santa Cruz, do município de Ouro Verde de Minas, destacou que apesar de todas as opressões, é preciso lutar. “A opressão social em que estamos vivendo atualmente tem como consequência não apenas a perda dos direitos sociais e dos sonhos de muitas mulheres e dos povos dos campos, mas sim a volta de um sistema de quase escravidão. Uma escravidão fria e calculista”, revelou.

 

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Ainda segundo a conselheira, os processos de Reforma Trabalhista e da Previdência requerem de nós um grande esforço. “As reformas que estão em andamento são mais que uma perda de direito e de retrocesso, é algo desumano. Por mais que haja diferenças e divergências entre nós, o momento agora é de união. A nossa unidade e organização são essenciais”, afirmou Maria Alves. 

Ainda seguindo a linha de que o momento que estamos vivendo é muito grave e trará impactos não apenas para nós como também para as próximas gerações, a presidenta da CUT Minas e coordenadora Geral do Sind-UTE/MG, Beatriz Cerqueira, reforçou a importância das mulheres falarem sobre o que quiserem, inclusive sobre política e sobre a situação atual do país.

“As reformas propostas pelo atual governo aprofundarão o desemprego, a fome e a miséria. Ao contrário do que dizem, ela não vai diminuir a crise econômica. Com o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos, a tendência é privatizar tudo o que for possível, inclusive o SUS com a proposta dos planos de saúde populares”, ressaltou Beatriz Cerqueira.

A presidenta da CUT Minas sinalizou ainda que as mulheres são as que mais pagam a conta de tudo isso, uma vez que ganham menos que os homens e são as primeiras a serem demitidas. Após afirmar que “os tempos são de guerra e de compreender que o que está em jogo é o nosso futuro e que nossa luta é de gênero, de classe e pela dignidade”, Beatriz foi intensamente aplaudida pela plateia. 

A terceira palestrante da tarde, Kátia Souto, reforçou o tema “Nenhum direito a menos” da Conferência, sinalizando que debater a questão da mulher e da saúde da mulher é fundamental para que todas entendam que cada minuto de luta foi muito importante.

“Somos diferentes, mas não somos desiguais e não queremos ser. Portanto, é preciso pensarmos em políticas públicas que abranjam todos esses recortes da pluralidade da sociedade. Conselhos e conferências como essa são espaços para fortalecimento da participação das mulheres nos debates”, afirmou. Kátia terminou sua fala com um convite a todas e a todos para resistirem e somarem forças. “Nós não teremos saúde se não tivermos democracia. Por isso, é preciso ousadia e coragem para fortalecer o controle social”, concluiu. 

Após as falas iniciais, as participantes da Conferência foram convidadas a participar com intervenções que foram debatidas posteriormente pelas representantes da mesa. Reflexões importantes como sobre a falta de profissionais de saúde em comunidades afastadas e discussões sobre como a atual política do SUS está sendo destruída foram alguns dos pontos levantados pelas conferencistas durante a primeira tarde de debates. 

Grupo Cigarras Cantora do Vitória 

O grupo Cigarras Cantoras do Vitória participou da abertura da primeira mesa da Conferência Estadual de Saúde das Mulheres. O trabalho do grupo vem se ampliando desde a sua primeira apresentação, em setembro de 2009, no Quilombo da Boa Morte, em Belo Vale, Minas Gerais.

Crédito: Marcus Ferreira

Composto por alunas e alunos do projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Professor Milton Lage (rua A, 70, bairro Jardim Vitória), na região Nordeste, o grupo surgiu da necessidade de melhorar a autoestima e o desejo de aprender das alunas. 

 

Por Ana Paula Brum