A Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS) sediou nesta quinta-feira, 25/08, a segunda reunião de grupo de trabalho criado com participação de técnicos de diversos órgãos governamentais, objetivando alinhar ações com vistas à prevenção contra a febre amarela. A primeira reunião foi realizada dia 9 de agosto com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já o segundo encontro teve participação ampliada, envolvendo representantes da Polícia Militar Ambiental, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e o Corpo de Bombeiros.

Crédito: Pedro Ricardo

A realização das reuniões de alinhamento tem como base o fato de no dia 4 de agosto deste ano a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) recebeu a confirmação da ocorrência de um caso de febre amarela em primata encontrado na zona rural de Montes Claros. Porém, até o momento não foram registrados casos humanos suspeitos ou confirmados da doença. Em Minas Gerais, o último caso humano de febre amarela ocorreu no município de Ubá, em 2009, com evolução para cura.

Na reunião desta quinta-feira a referência técnica em vigilância ambiental da SRS, Patrícia Brito, ressaltou que embora a SES-MG não tenha recebido a confirmação de novos casos de ocorrência de febre amarela em primatas, todos os municípios já foram comunicados sobre a necessidade de estarem vigilantes em relação à morte de animais. As gerências regionais de saúde de Januária e Pirapora também já foram comunicadas sobre a necessidade de alertarem os serviços de saúde dos municípios no sentido de estarem atentos quanto à ocorrência de morte de animais silvestres, a fim de que os casos sejam devidamente investigados.

Durante o encontro realizado nesta quinta-feira, o professor da Unimontes especialista em primatas, Valdiney Martins, destacou a importância da população ser orientada por parte dos diversos órgãos governamentais quanto ao fato dos primatas não serem os responsáveis pela transmissão da febre amarela. A transmissão é feita por vetores, entre eles o mosquito Aedes aegypti.

“Se os primatas não existissem os serviços de saúde só saberiam da ocorrência da febre amarela quando as pessoas já estivessem acometidas pela doença. Daí a necessidade de se orientar a população no sentido de não matar os animais”, observou o professor.

Nesse contexto a referência técnica em epidemiologia da SRS Montes Claros, Josianne Dias Gusmão destacou a importância da troca de informações entre os órgãos governamentais, levando-se em conta que entre outros vetores transmissores da febre amarela, o mosquito Aedes aegypti que até então predominava em áreas urbanas, atualmente já tem sido encontrado em zonas rurais, o que aumenta a necessidade da população ser orientada quanto à prevenção contra a febre amarela.

PREVENÇÃO

Desde março, quando surgiram as primeiras informações sobre a ocorrência de mortes de primatas no município de Coração de Jesus, no Norte de Minas, a SES-MG está intensificando as ações de vigilância. O trabalho foi incrementado com o apoio de técnicos das regionais de saúde de Divinópolis, Barbacena, Varginha, Uberaba e Januária que, entre os meses de março e julho, registraram a ocorrência de morte de primatas em doze municípios do Norte de Minas: Brasília de Minas, Coração de Jesus, Francisco Dumont, Glaucilândia, Icaraí de Minas, Indaiabira, Lontra, Mirabela, Montes Claros, São Francisco, São João do Pacuí e Urucuia. Todas as amostras coletadas foram encaminhadas para análise em laboratório, porém somente no dia 4 de agosto os primeiros resultados foram recebidos pela SES-MG.

Entre as ações de prevenção tomadas pela Secretaria de Estado de Saúde e municípios está a avaliação e intensificação da vacinação, priorizando populações de áreas rurais e silvestres, principalmente para aqueles indivíduos com maior risco de exposição (população de área rural, silvestre, pessoas que fazem turismo “ecológico” ou “rural”, agricultores, extrativistas e outros que adentram áreas de mata ou silvestres). Além disso, população e profissionais de saúde estão sendo mantidos informados sobre a doença e a importância da notificação de casos suspeitos em primatas. Todos os casos humanos suspeitos também devem ser notificados e investigados (até 24h), incluindo as doenças febris hemorrágicas e óbitos por causa desconhecida. 

TRATAMENTO E VIGILÂNCIA

De acordo com o Ministério da Saúde a febre amarela é uma doença febril aguda, de curta duração (no máximo 12 dias) e de gravidade variável. A forma grave caracteriza-se clinicamente por manifestações de insuficiência hepática e renal, que podem levar à morte. Deve-se levar em conta seu potencial de disseminação em áreas urbanas.

Em ambas as formas epidemiológicas os mosquitos vetores são os reservatórios do vírus amarílico. Na doença urbana, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica. Na forma silvestre, os primatas são os principais hospedeiros do vírus amarílico e o homem é um hospedeiro acidental.

A doença só é transmitida por meio da picada de mosquitos transmissores infectados. O período de incubação é de 3 a 6 dias após a picada do mosquito. O diagnóstico pode realizado por isolamento do vírus amarílico e detecção de antígeno em amostras de sangue ou tecido e por sorologia. Também podem ser realizados exames de histopatologia em tecidos pos morten.

Não existe um tratamento específico no combate à febre amarela. O paciente deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e perdas sanguíneas quando necessário. Os casos graves devem ser atendidos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de modo que as complicações sejam controladas e o perigo da morte, eliminado.

Contra a febre amarela há vacina segura e eficaz. No Brasil, a vacinação está indicada a partir dos nove meses de idade para todos os residentes das áreas de risco - endêmica, transição e risco potencial e para viajantes que se dirigem para estas áreas. A vacina é gratuita e está disponível em postos de saúde de todos os municípios do país e tem validade de dez anos.

Por Pedro Ricardo