Começa na quarta-feira, dia 27, com uma panfletagem das 11 às 13 horas no Restaurante Popular da Avenida do Contorno, as comemorações pela Semana Mundial de Combate à Hanseníase. A semana, que tem como objetivo alertar sobre os sintomas da doença e incentivar a procura pelos serviços de saúde e mobilizar profissionais quanto à busca ativa de casos novo, termina no dia 31, Dia Mundial de Combate à Hanseníase, com uma caminhada contra o preconceito na orla da Pampulha.

O Dia Mundial de Combate à Hanseníase é comemorado no último domingo de janeiro e foi instituído pela Organização Mundial de Saúde. O presidente da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Jorge Nahas, alerta para a ocorrência de novos casos todos os anos de hanseníase, conhecida desde os tempos bíblicos como lepra, uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que se manifesta, principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Durante as reações (surtos reacionais), vários órgãos podem ser acometidos, tais como olhos, rins, testículos, fígado e baço.

Casa de Saúde Santa Izabel, Belo Horizonte/MG

A transmissão se dá por meio de espirros e tosses, por exemplo, de uma pessoa doente e sem tratamento. O contágio não é possível através de abraços e apertos de mão. Também não é necessário separar roupas, pratos, talheres e copos do infectado em casa.

A doença tem tratamento e cura. O tratamento é gratuito e inclui um coquetel de antibióticos. Não há mais necessidade de internação do paciente acometido pela hanseníase, a não ser que apresente reações adversas ao tratamento, quando deverá ser internado em hospital geral por curto período até se adequar à medicação.

Casas de Saúde

A Fhemig tem quatro casas de saúde, que são ex-colônias de hanseníase: Santa Izabel, em Betim, fundada em 23 de dezembro de 1931; Santa Fé, em Três Corações, fundada em 12 de maio de 1942; São Francisco de Assis, em Bambuí, fundada em 23 de março de 1943; e Padre Damião, em Ubá, fundada em 1945. Estas unidades, quando de sua criação, eram exclusivamente sanatórios de hanseníase com o objetivo de atender e isolar especificamente pacientes de todas as regiões de Minas Gerais e de outros estados.

A internação compulsória e a rigidez de seu controle, com agravantes de exclusão social, foi a tônica da história dos sanatórios. Famílias inteiras foram compulsoriamente internadas, os filhos assim que nasciam eram separados das mães e cuidados em preventórios. Muitos foram dados para a adoção e até mesmo vendidos, segundo relatos da época.

Os leprosários viviam em um campo de concentração da saúde, mantido pelo Estado, onde os portadores do contagioso bacilo deveriam ficar isolados, preservando a integridade física de toda uma população “não contaminada”.

Mudança no perfil de atendimento

O avanço da ciência e a conquista de direitos promoveram mudanças na política oficial em relação às colônias, pondo fim à crueldade histórica da segregação compulsória. As colônias transformaram-se em centros de reabilitação e cuidado ao idoso, com destaque para o tratamento da hanseníase. As unidades oferecem ainda atendimento à população em diversas especialidades médicas.

Protocolo Sentinela

A Fhemig e autoridades sanitárias do Estado, preocupadas com a ocorrência de novos casos e atentas ao público ainda dependente em suas unidades, lançarão oficialmente no dia 29, às 14 horas, o Protocolo Sentinela de Investigação de Casos Notificados em Áreas de Ex-Colônias de Hanseníase. O protocolo, criado a partir do esforço conjunto da Fhemig, através do Grupo de Apoio e Assessoramento à Gestão das Casas de Saúde, da Diretoria Assistencial, e da SES-MG, através do Departamento de Dermatologia Sanitária e da Coordenação de Doenças Crônicas não Transmissíveis, é uma norma técnica a ser executada pelos médicos, enfermeiros e profissionais da reabilitação na realização de exames dermatoneurológicos e laboratoriais para diagnóstico, acompanhamento e tratamento de casos de hanseníase.

O protocolo trará o benefício do cuidado em saúde na área da hanseníase, promovendo a prevenção, o diagnóstico precoce, o tratamento correto e o seu acompanhamento às pessoas que dele necessitarem. Para Jorge Nahas, o protocolo da hanseníase será um poderoso instrumento de prevenção e cuidado. “Nós vamos fazer uma investigação organizada, sistemática, de acordo com as portarias e determinações do Ministério da Saúde, em todas Colônias e no seu entorno”, ressaltou.

Minas Gerais notifica 1.400 novos casos/ano

Segundo Maria do Carmo Rodrigues de Miranda, da Coordenadoria Estadual de Dermatologia Sanitária Diretoria de Vigilância de Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis e da Superintendência de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde, a hanseníase é uma das prioridades de ação do governo brasileiro já há alguns anos.

Minas Gerais vem notificando cerca de 1 mil 400 casos novos a cada ano nos últimos cinco anos. Em 2014, foram 1 mil 215 novos casos, significando 5,86 novos diagnósticos em cada 100 mil habitantes, dos quais 4,5% (55) foram em menores de 15 anos. O acometimento de crianças pressupõe a presença de adultos doentes sem diagnóstico e sem tratamento, convivendo e transmitindo a hanseníase para crianças e adolescentes. Do total de casos novos notificados em 2014, 10,9% foram diagnosticados com deformidade, indicando um percentual ainda elevado de diagnóstico tardio.

Segundo ela, embora, o número de casos de hanseníase tem diminuído nos últimos anos, no mundo e no Brasil. Mas “estamos ainda distantes do real controle desta doença”. Em 2014, a Organização Mundial de Saúde recebeu a notificação de 213 mil 889 casos novos de hanseníase de 121 países, sendo que 13 destes países tiveram mais de 1.000 novos casos, dos quais a Índia com 125 mil 785 (58,8% do total) e o Brasil com 31 mil 064 (14,5% do total).

Para Maria do Carmo, a divulgação dos sinais e sintomas da hanseníase e do seu tratamento e cura é uma importante arma no combate à doença. “É importante que as pessoas saibam que a hanseníase tem cura e que o tratamento é gratuito e está disponível nas unidades de saúde pública”, disse, ressaltando que imediatamente após iniciar o tratamento, que dura entre 6 a 12 meses, os pacientes já não mais a transmitem para as pessoas com quem convivem, mesmo os doentes da forma contagiosa, que correspondem a cerca de 30% do total de casos diagnosticados

» Programação da Semana Mundial de Combate à Hanseníase

A SES-MG, em ação conjunta com o município de Belo Horizonte, Fhemig, Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) e demais instituições ligadas ao controle da doença programaram uma série de atividades para a semana.

27 de janeiro
Das 11 às 13 horas - Panfletagem como discussão sobre a hanseníase no Restaurante Popular, das 11 às 13 horas.

29 de janeiro
14 horas, na Casa de Saúde Santa Izabel - Lançamento oficial e assinatura do Protocolo Sentinela de Investigação de Casos Notificados em áreas de ex-colônias de Hanseníase – Fhemig e SES.

9 horas, na Casa de Saúde Izabel - Abertura do Curso Intervenções Terapêuticas e Autocuidado do Paciente no Controle da Hanseníase

30 de janeiro
23º Concerto Contra o Preconceito na Praça da Matriz da Colônia Santa Izabel. A partir das 9 horas serão realizadas ações de saúde e atividades esportivas. A partir das 19 horas, shows culturais.

31 de janeiro
9 horas na Lagoa da Pampulha, com concentração em frente à Praça de Iemanjá, caminhada com a presença da Miss Mundo Brasil 2015, Júlia Gama, embaixadora da luta contra a hanseníase

A partir das 10 horas – shows culturais na Praça da Matriz da Colônia Santa Izabel.

Por Samira Ziade / FHEMIG