Evento reúne profissionais e especialistas em saúde pública do Canadá, Chile, Cuba, Espanha e Brasil em trocas de experiências sobre o atendimento às doenças crônicas

Maior expectativa de vida, envelhecimento da população, predominância da vida urbana e hábitos alimentares pautados na cultura do fast food apresentam novos desafios para a saúde pública em todo o mundo. Doenças crônicas como diabetes, hipertensão e câncer acometem e matam uma parcela cada vez maior da população mundial – a estimativa da Organização Mundial de Saúde é que a cada oito segundos uma pessoa no mundo morre em decorrência de doenças crônicas.

Essa realidade vem exigindo respostas que passam, prioritariamente, pela reorganização da assistência, com o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) e maior participação dos pacientes em seu autocuidado, com a saúde pública promovendo ações que incentivem as mudanças de hábitos de vida e alimentação. E esse foi o ponto comum nas palestras ministradas nesta terça-feira (11/11) por representantes dos serviços de saúde do Canadá, Chile, Cuba, Espanha e Brasil, que compartilharam suas experiências de políticas públicas para o atendimento a pacientes crônicos, durante o I Seminário Internacional de Atenção às Condições Crônicas, promovido pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.

Atualmente, 10% da população mineira têm diabetes e 20% é hipertensa. Em 2010, as doenças do aparelho circulatório (enfarto do miocárdio, Acidente Vascular Cerebral, entre outras) causaram 33.368 mortes em Minas Gerais, o que representa 30,7% do total de óbitos registrados no estado naquele ano. As principais doenças crônicas não-transmissíveis (diabetes, cânceres, insuficiência renal crônica, etc) foram responsáveis por 52% dos óbitos de mineiros em 2010.

Crédito: Marcus Ferreira

O Secretário de Estado de Saúde, José Geraldo de Oliveira Prado, frisou que Minas Gerais vem perseguindo um modelo integrado de saúde, com o fortalecimento e valorização da Atenção Primária de Saúde, regionalização dos serviços de atendimento e investimento em serviços especializados, como a criação do Laboratório de Inovação das Condições Crônicas e o intercâmbio com outros estados e países. “Conseguimos levar para Santo Antônio do Monte um esforço de análise de integração da atenção básica, com a atenção secundária e vigilância sanitária juntas na busca de soluções que sejam mais efetivas e mais viáveis diante do nosso cenário de financiamento. O desafio que se coloca para o futuro e o fato de estarmos chegando ao envelhecimento um pouco mais tardio em relação ao primeiro mundo e o crescimento das doenças crônicas no Brasil estarem acontecendo em um momento posterior, nos permite aproveitar a experiência dos países desenvolvidos”, ressaltou.

A troca de experiências promovidas pelo seminário também foi elogiada pelo Gerente do Projeto Mais Médicos no Brasil e representante da Organização Pan-americana da Saúde, Renato Tasca. “Os países bascos que vivenciaram antes a explosão das doenças crônicas com o envelhecimento da sua população tem muito a contribuir com suas experiências para os países que começam a enfrentar esses desafios. É preciso fortalecer a Atenção Primária no Brasil para identificar novas formas sustentáveis de atendimento aos usuários do SUS”, opinou.

 O prefeito de Santo Antônio do Monte, Wilmar de Oliveira Filho, também falou sobre a importância de uma atenção básica bem estruturada. “A Atenção Primária em Saúde conquistou credibilidade com a estratégia do Programa Saúde da Família. As ações passaram a ser focadas em promoção à saúde, passando a família a ser o foco e mudando a relação saúde-doença. Aproximadamente 85% dos problemas de saúde tem resolutividade na APS. É na Atenção Primária que podemos implementar ações que permitem prevenir as doenças crônicas e suas complicações”, avaliou.

Para a Secretária de Saúde de Pernambuco e representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Ana Maria de Albuquerque, é preciso investir no amadurecimento das discussões e propostas de ações da APS na atenção às condições crônicas. “Precisamos encontrar alternativas de gestão para a atenção às doenças crônicas e o fortalecimento da APS para alcançarmos os resultados esperados e investir não apenas na atenção, mas também na mudança de hábitos da população”, ressaltou.

Experiência de Minas Gerais

A coordenadora de Hipertensão e Diabetes de Minas Gerais e da Rede Viva Vida, Flávia Gomes de Carvalho, apresentou o Programa Hiperdia de Atenção às Condições Crônicas no estado.

A Rede Hiperdia é um dos programas estruturadores da saúde em Minas e tem como objetivo prestar assistência especializada aos pacientes mais complexos com hipertensão arterial, diabetes e doença renal crônica. Além de supervisionar a atenção prestada a esses pacientes na atenção básica.

A rede conta com equipe interdisciplinar que desenvolve um programa específico para cada paciente através da elaboração de um plano de cuidado, como por exemplo, a atenção especial ao pé diabético, que tem conseguido reduzir os casos de amputação nos pacientes com complicações causadas pela diabetes. “É muito gratificante ouvir um profissional do Centro Hiperdia relatar que conseguiu, através do acompanhamento do paciente, reverter a necessidade de uma amputação”, afirmou a coordenadora.

Atualmente o estado conta com 15 Centros Hiperdia e outros dois estão para iniciar o atendimento.

Experiências Internacionais

O diretor do Instituto Vasco de Inovação Sanitária e professor da Universidade do País Vasco, Roberto Nuño Bolonha, falou sobre os desafios das condições crônicas no cenário mundial. Segundo o especialista, 20% da população maior de 65 anos dos países bascos tem multi-patologias e multi-morbidades. O atendimento a essa parcela da população consome um quarto dos recursos do orçamento sanitário, já que para atender a um paciente com cinco morbidades crônicas são gastos 5 mil euros por ano, custo que cai para 300 euros no atendimento aos pacientes que fazem prevenção. O especialista reforçou a importância da mudança no modelo atual pautado na atenção hospitalar para o modelo de Atenção Primária, que investe em ações de prevenção e favorece o papel mais ativo do paciente no cuidado com sua saúde.

A experiência canadense compartilhada por Sandra Delon, Director of Chronic Disease Management Program, também apontou para a importância da mudança do paradigma de atendimento às doenças crônicas. Parecido com o Programa Saúde da Família, o modelo canadense também é focado em clínicas da família e incentiva a participação ativa do paciente em sua própria condição crônica, com programas de acompanhamento e promoção de atividades físicas e reeducação alimentar. “Tivemos o desafio de mostrar aos outros profissionais da saúde a ideia do programa. Mas hoje eles são embaixadores do programa porque entenderam que estão ajudando os pacientes a se cuidarem em atividades cotidianas”, contou.

No Chile, o modelo é de saúde integral baseado na Atenção Primária, com equipes multidisciplinares. Os esforços chilenos foram concentrados em polos de atendimento aos doentes crônicos, com implantação de programas como o Vida Sã, que intervém nos fatores de risco e propõe o trabalho em grupo. “Tivemos muitas frustações porque enquanto muitos trabalharam para conter a obesidade nós queríamos reduzi-la e ainda não conseguimos. Mas tivemos muito sucesso com a adesão ao programa”, ressaltou Irma Vargas, Subsecretária de Redes Assistenciais do Chile.

A subsecretária também falou sobre as experiências dos programas de tele-oftalmologia e tele-cardiologia do seu País e também do Sistema de Aprendizagem à Distância, em que 60% dos profissionais da Atenção Primária estão inscritos.

O modelo compartilhado pelos cubanos teve como foco a atendimento a pacientes oncológicos. Assim como nos demais países, a Atenção Primária com foco na saúde da família é forte aliada, além da descentralização do atendimento que possibilitou que os pacientes não precisassem fazer deslocamentos constantes à capital para conseguir o atendimento. “Além dos profissionais médicos e não médicos, os líderes comunitários também têm um papel importante, porque são eles que conhecem de perto os problemas daquela população”, pontuou Edgar Tigerino, coordenador do Programa de Atenção Integral às Enfermidades Crônicas Não-Trasmissíveis na Província de Mayabeque em Cuba.

O evento continua nesta quarta-feira, 12/11, quando acontece o III Seminário do Laboratório de Inovação das Condições Crônicas de Santo Antônio do Monte. Entre os temas a serem abordados estão as novas tecnologias utilizadas no atendimento às doenças crônicas e a organização da assistência nos níveis primário e ambulatorial.

Secretário Participa do IV Fórum Científico da Fhemig

O Secretário de Estado de Saúde, José Geraldo de Oliveira Prado também participou na terça-feira (11/11) do IV Fórum Científico da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig). O evento, que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), teve como objetivo apresentar a produção científica dos servidores da Fhemig e debater temas importantes para a pesquisa na qualidade da assistência no sistema público de saúde do estado.

Por Giselle Oliveira