A partir do segundo semestre de 2019 as escolas das redes estadual e municipais do Norte de Minas passam a contar com dois programas voltados para a promoção da saúde de crianças e adolescentes, são eles: Crescer Saudável e Saúde Auditiva no ambiente escolar. Trata-se de iniciativas que a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) apresentou nesta quinta-feira (8/8), aos coordenadores de serviços de atenção primária, de 53 municípios que integram a área de atuação da Regional de Saúde de Montes Claros.

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O Crescer Saudável e a Saúde Auditiva no ambiente escolar fazem parte do Programa Saúde na Escola (PSE) que, em nível nacional, é coordenado pelo Ministério da Saúde. Durante reunião técnica realizada no auditório das Faculdades Prominas, em Montes Claros, a superintendente regional de Saúde, Dhyeime Thauanne Pereira Marques, destacou a importância da SES-MG estabelecer parcerias com os municípios para a implementação dos dois programas.

“Com experiência de ter sido gestora de saúde do município de Riacho dos Machados, sabemos da importância do fortalecimento dos serviços de atenção primária à saúde, sobretudo, no que se refere à implementação de programas voltados para a prevenção da saúde da população. Isso evita o aumento dos agravos de saúde o que, atualmente, tem sobrecarregado os serviços de média e de alta complexidade”, observou.

Ainda segundo Dhyeime Marques “a união de esforços entre o Governo do Estado, municípios e outras instituições se constituem estratégias fundamentais para que haja o incremento dos programas de prevenção e de promoção da saúde da população, entre eles, dos estudantes que ainda estão na fase da primeira infância ou da adolescência. Com ações de prevenção, num futuro próximo será possível alcançarmos resultados positivos na redução das demandas de pessoas adultas nos serviços de saúde, à procura de tratamentos mais complexos”, concluiu.

Para o coordenador do Núcleo de Atenção Primária da Regional de Saúde de Montes Claros, João Alves Pereira, “os programas Crescer Saudável e de Saúde Auditiva no ambiente escolar trazem novos conhecimentos para os profissionais de saúde e da educação, o que possibilitará aos municípios obterem resultados mais relevantes nas ações de prevenção e de promoção da saúde”, disse.

Por sua vez, a nutricionista e referência técnica em Promoção da Saúde da SES-MG, Graciele Fernandes Silva, lembrou que o fortalecimento dos serviços de atenção primária tem nas crianças a base para que, a médio e longo prazo, os municípios alcancem resultados significativos na melhoria das condições de vida e de saúde da população. “Sabemos que muitos gestores se preocupam em obter resultados de curto prazo no segmento da saúde, mas é fundamental que o investimento na promoção da saúde da população seja realizado a fim de que as futuras gerações não sofram as consequências de agravos de saúde que podem ser evitados por meio de ações de prevenção, que estão a cargo dos serviços de atenção primária”, reforçou Graciele Fernandes.

Crescer saudável

Trata-se de uma iniciativa que envolve um conjunto de ações a serem implementadas pelos municípios no âmbito do Programa Saúde na Escola e tem o objetivo de contribuir com a prevenção, controle e tratamento da obesidade infantil. Entre as ações que compõem o Programa está a vigilância nutricional; a promoção da alimentação adequada e saudável; o incentivo às práticas corporais e de atividade física; e a oferta de cuidados para as crianças que apresentam obesidade.

Graciele Fernandes lembra que o Programa constitui “uma agenda coordenada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) onde prevalece a articulação intersetorial, primordialmente, com as secretarias de educação em função da complexidade dos determinantes da obesidade e da influência dos ambientes no seu desenvolvimento”, explicou.

Entre as estratégias mais efetivas para prevenção e controle da obesidade infantil, o Programa Crescer Saudável contempla o monitoramento do estado nutricional, ações de promoção da alimentação saudável e de práticas corporais e atividades físicas nas escolas. As secretarias municipais de saúde e de educação deverão encaminhar as crianças identificadas com obesidade para intervenção e cuidado na rede de atenção à saúde dos municípios.

Obesidade

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é uma condição complexa, com sérias dimensões sociais e psicológicas, que afeta praticamente todos os grupos etários e socioeconômicos e ameaça sobrecarregar países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nesse contexto, o excesso de peso entre crianças brasileiras tem alcançado prevalências preocupantes pois, segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), em 2017, cerca de 3 em cada dez crianças com idade entre 5 e 9 anos apresentavam excesso de peso.

Crianças com sobrepeso têm 55% de chance de se tornarem adolescentes obesos e 80% de chance de serem adultos obesos. Elas também são mais propensas a desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em idade mais jovem do que as crianças que não tem excesso de peso. Dentre as doenças não transmissíveis se destacam a diabetes e doenças cardiovasculares que, por sua vez, estão associadas a uma maior chance de morte prematura e incapacidade, onerando o SUS.

As causas da obesidade são complexas e estão relacionadas ao conjunto de fatores que constituem o modo de vida das populações modernas, caracterizado por um consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, que usualmente apresentam altos teores de açúcar, gordura e sódio, juntamente com uma prática reduzida de atividade física.

Saúde Auditiva

Neste segundo semestre os municípios do Norte de Minas também iniciam a implementação do Instrumento de Triagem Auditiva Infantil (ITAI). A iniciativa, que se constitui numa das 12 ações previstas no PSE, visa promover o acesso de estudantes aos serviços de atenção primária à saúde, por meio da articulação com os demais espaços de proteção da criança.

A referência técnica em Promoção da Saúde da SES-MG, Graciele Fernandes Silva, explica que “além de identificar em tempo oportuno estudantes suscetíveis a apresentar alterações auditivas, profissionais de saúde e de educação terão condições de encaminhar os pacientes para tratamento em serviços especializados, visando minimizar os danos causados pela deficiência na primeira infância o que, por outro lado, fortalecerá as redes de atenção à saúde”, disse.

Durante a reunião técnica realizada nesta quinta-feira a SES-MG apresentou aos coordenadores de atenção primária dos municípios e às referencias técnicas do PSE, cartilha do ITAI elaborada pelas secretarias de Estado de Saúde e de Educação em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Conselho Regional de Fonoaudiologia da 6ª Região e Université Clermont Auvergne, da França.

Dividida em três capítulos, a cartilha fornece todo o encaminhamento de como identificar crianças com risco de perda auditiva. O diagnóstico é feito por meio de um formulário idealizado, desenvolvido e validado como parte de um projeto de cooperação internacional entre o Departamento de Fonaudiologia da UFMG e o Laboratório de Biofísica da Université Clermont Auvergne.

O ITAI é composto por três formulários com questões sobre desenvolvimento da audição e linguagem das crianças entre 12 a 48 meses. Os formulários são divididos em dois eixos: entrevista ao paciente ou responsável e marcos do desenvolvimento infantil de acordo com as faixas etárias envolvidas. O ITAI é sensível o suficiente para triar crianças com possíveis perdas auditivas, que podem ser temporárias ou permanentes. Desta forma, os profissionais da atenção primária à saúde têm condições de identificar, tratar ou encaminhar as crianças com algum tipo de problema para atendimento em serviços especializados. Nas unidades básicas de saúde será realizado o atendimento multiprofissional e, caso a equipe observe necessidade, a criança será encaminhada para avaliação na rede assistencial especializada da sua região de saúde. Após a avaliação, a equipe deverá compartilhar a situação da criança com a escola, de modo que ambas se responsabilizem pelo cuidado.

Por Pedro Ricardo