Numa iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) em parceria com o Ministério da Saúde e Secretaria Municipal de Saúde, nesta quinta e sexta-feira, 27 e 28 de junho, Montes Claros recebe o Projeto Roda Hans. O objetivo é conscientizar profissionais da saúde e população sobre a hanseníase, seus sinais e sintomas, além de ofertar atendimento qualificado nos serviços mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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Nesta quinta-feira, foi realizado no auditório da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), em Montes Claros, encontro de profissionais de saúde de municípios que integram a área de atuação da Regional de Saúde de Montes Claros. Médicos e enfermeiros participaram de palestras e debates sobre o diagnóstico precoce em hanseníase e os procedimentos que devem ser adotados visando o tratamento eficaz dos pacientes.

“Cerca de 10% da população é mais suscetível à hanseníase, mas se o diagnóstico da doença não acontece de maneira correta e precoce, os pacientes tendem a ter sequelas mais graves e a cadeia de transmissão da doença não é quebrada”, alertou o médico dermatologista do Hospital de Doenças Tropicais de Tocantins, Ebert Mota de Aguiar, convidado pelo Ministério da Saúde para ministrar palestra para os profissionais do Norte de Minas.

Para que o país consiga desenvolver trabalho de controle efetivo da hanseníase, Ebert Aguiar ressaltou que “é preciso que estados e municípios invistam em ações de educação em saúde, contemplando o repasse de orientações para a população sobre os sintomas da doença. Além disso, apesar da alta rotatividade de profissionais nos serviços de saúde, é preciso que eles sejam capacitados para fazer o diagnóstico correto e o mais precoce possível da hanseníase. Aliado a isso, é preciso que a população tenha efetivo acesso aos serviços de saúde, pois mesmo tendo conhecimento dos sintomas da doença a dificuldade de acesso a um médico não pode ser motivo para postergar o tratamento. Se isso acontece, a cadeia de transmissão da doença acaba sendo acelerada”, observou Ebert Aguiar.

Durante o seminário o médico Mariano Fagundes Neto, integrante da Equipe Estratégia de Saúde da Família do bairro Independência, em Montes Claros, falou sobre “Avaliação Neurológica Simplificada” e a médica, Maria Elizabeth Lages, da Secretaria Municipal de Saúde proferiu palestra sobre “Vigilância dos Contatos” de pacientes acometidos por hanseníase com pessoas do ciclo familiar, de trabalho ou social.

A coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Regional de Saúde de Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes destaca a importância da ação conjunta da SES-MG com o Ministério da Saúde e Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros voltada para o reforço das ações de controle da hanseníase no Norte de Minas. “O problema da hanseníase é multidisciplinar e só será combatido com a participação de todos: poder público, profissionais de saúde, a sociedade e, também, os familiares das pessoas acometidas pela doença”, observa a coordenadora.

Dados da SES-MG apontam que até 10 de junho deste ano já foram notificados 39 casos de hanseníase entre os 53 municípios que integram a área de atuação da Regional de Saúde de Montes Claros. No ano passado foram notificados 68 casos e, em 2017 foram feitos 57 registros da doença. Os municípios com maior incidência de casos notificados de hanseníase são: Bocaiúva, Capitão Enéas, Janaúba, Mato Verde, Montes Claros, Ninheira, Porteirinha, Rubelita e Salinas.

Minas Gerais notifica cerca de 1.300 novos casos de hanseníase a cada ano. O acometimento de crianças pressupõe a presença de adultos doentes sem diagnóstico e sem tratamento, convivendo e transmitindo a hanseníase para crianças e adolescentes.

A situação da doença no estado apresenta-se de forma bastante heterogênea com 45 municípios considerados hiperendêmicos, 56 de muito alta endemia, 74 de alta endemia, 121 de média endemia e 22 de baixa endemia. Em 554 municípios nenhum caso foi detectado no ano de 2016 e esse fato vem se repetindo ao longo dos últimos oito anos.

Carreta Roda Hans

Nesta sexta-feira, 28 de junho, o projeto Roda Hans tem continuidade em Montes Claros. Profissionais de saúde participarão de treinamento prático para diagnóstico da hanseníase.

Numa parceria do Ministério da Saúde com a Associação Alemã de Assistência aos Acometidos pela Hanseníase e Tuberculose – (DAHW Brasil) e com a empresa farmacêutica Novartis Brasil, Montes Claros recebe a carreta “Roda Hans”. Equipada com cinco consultórios, o veículo ficará estacionado durante todo o dia na Praça Pio XII, em frente à Catedral Metropolitana.

Em cada consultório, médicos atenderão pacientes e vão orientar profissionais de saúde do Norte de Minas quanto ao diagnóstico precoce da hanseníase. A seleção dos pacientes foi feita pela Secretaria de Saúde de Montes Claros que, também está garantindo suporte logístico para o recebimento do Projeto Roda Hans no município.

Ainda no Norte de Minas o Projeto contemplará as regiões de saúde de Salinas (dias 4 e 5 de julho); Janaúba (8 e 9 de julho); Januária (11 e 12 de julho) e, Pirapora em data que ainda está em fase de definição.

Neste ano, além de Minas Gerais, o projeto Roda Hans está percorrendo os estados do Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Espirito Santo e São Paulo. O projeto visa contribuir para a erradicação da hanseníase no Brasil que, por ano, acomete cerca de 30 mil pessoas.

Por meio dos médicos atuantes nas ações o Projeto viabiliza fazer a busca de novos casos e dar o diagnóstico da hanseníase durante exame clínico. Os casos confirmados são imediatamente encaminhados para as unidades de saúde dos municípios, a fim de que os pacientes recebam o tratamento adequado.

A doença

Conhecida antigamente como lepra a hanseníase é uma doença crônica, transmissível, de notificação e investigação obrigatória em todo o país. Possui como agente etiológico o Micobacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de pessoas e atinge, principalmente, a pele e os nervos periféricos. A doença é transmitida pela tosse ou espirro, por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente, sem tratamento.

A hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. Entretanto, é necessário um longo período de exposição à bactéria, sendo que apenas uma pequena parcela da população infectada realmente adoece. O Brasil ocupa a segunda posição mundial entre os países que registram casos novos de hanseníase.

Os principais sintomas da doença são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo com perda ou alteração de sensibilidade térmica (ao calor ou frio), tátil (ao tato) e à dor que podem estar principalmente nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas.

Também são sintomas da doença áreas com diminuição de pelos e suor; dor e sensação de choque, formigamento, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; inchaço de mãos e pés; diminuição da sensibilidade ou da força muscular da face, mãos e pés; ulceras de pernas e pés; caroços no corpo; febre, edemas e dor nas juntas.

O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio de exames em geral e dermatoneurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade ou comprometimento de nervos periféricos. O diagnóstico precoce e tratamento oportuno são as principais formas de prevenir as deficiências e incapacidades físicas causadas pela hanseníase.

A doença tem cura. O tratamento, garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), poderá ser concluído em até nove meses, devendo o paciente seguir esquema terapêutico mensal.

Por Pedro Ricardo