A partir deste mês, em uma ação pioneira, o Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig, passa a oferecer atendimento em práticas integrativas e complementares, por meio de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais do próprio hospital e voluntários. Segundo uma das criadoras do Grupo Animus (como é denominada a equipe de Práticas Integrativas em Ambiente Hospitalar), a dermatologista Ana Cláudia Lyon, além do Hospital Eduardo de Menezes, “em Minas Gerais, não há nenhuma instituição, com um grupo formalmente organizado, que ofereça essas práticas em âmbito hospitalar”.

A iniciativa inédita, que trabalha com aromaterapia, reiki, constelação familiar, auriculoterapia e mindfulness, vem sendo testada, com sucesso, desde novembro do ano passado. Os resultados positivos impulsionaram a criação do grupo e a estruturação do atendimento de forma individual e coletiva. Os atendimentos individuais serão realizados três vezes por semana e os coletivos a cada 15 dias e se destinarão não apenas aos usuários do hospital, como também aos seus servidores. A primeira ação coletiva será o mindfulness.

Pacientes e servidores

Como esclarece outra criadora do grupo, a farmacêutica e aromaterapeuta, Jesiane Lucas, o Animus foi estruturado com finalidade de pesquisa, para estudar as práticas integrativas e os seus resultados, e também com um fim prático, ou seja, para atender os pacientes e os servidores. “São pacientes HIV, que não aceitam o diagnóstico, que não querem se tratar, que se internam muito, e precisamos reverter esse quadro”, salienta a profissional. Ainda de acordo com Jesiane, em relação aos servidores, o objetivo principal é harmonizar as relações interpessoais no ambiente de trabalho. A farmacêutica reitera que, embora alguns hospitais em Minas trabalhem com as práticas integrativas, nenhum possui um grupo organizado para atuar de forma efetiva com as PIC’s.

Créditos: Alexandra Marques

Com base nesses objetivos, os resultados esperados são a aceitação do diagnóstico pelos pacientes e, com isso, maior adesão ao tratamento e melhor qualidade de vida, além da redução do número de internações e dos custos hospitalares. Quanto aos servidores, espera-se uma diminuição do absenteísmo (ausência ao trabalho por qualquer razão) e maior empoderamento ao lidar com o estar no hospital e suas adversidades, bem como a melhoria das relações interpessoais.

Métodos complementares, resultados efetivos

É importante deixar claro que as práticas integrativas não são práticas alternativas, e sim métodos complementares aos métodos convencionais da medicina, que apresentam resultados efetivos, tanto como forma de prevenção como também para aliviar sintomas e tratar pessoas que estão doentes. Além disso, os benefícios do tratamento integrado entre medicina convencional e práticas integrativas são comprovados por evidências científicas. “Elas buscam tratar o doente e não a doença. O projeto no HEM é um movimento que parte da realidade dos trabalhadores da saúde, que tem constatado a efetividade das práticas no cotidiano do hospital”, ressalta Jesiane Lucas. A aromaterapeuta destaca ainda que os diagnósticos devem ser embasados no indivíduo como um todo. “Não devemos tratar apenas o órgão acometido. É preciso mudar o olhar, do foco na doença, para o foco na saúde”, reitera Jesiane.

Crescimento exponencial

As práticas integrativas e complementares foram adotadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de várias questões não atendidas no âmbito da saúde convencional. Desse modo, o Ministério da Saúde, respaldado pela Organização Mundial de Saúde, criou, em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Atualmente, são realizados, de forma integral e gratuita, 29 procedimentos de Práticas Integrativas e Complementares (PICs) pelo SUS. Em Minas Gerais, mais de 150 municípios trabalham com essas práticas.

“Houve um crescimento exponencial das práticas integrativas e complementares no SUS, devido ao maior reconhecimento dessas práticas em razão das evidências científicas e pela efetividade pragmática facilmente verificável pelos beneficiados. Além disso, essas práticas são mais baratas”, resume Jesiane Lucas.

Para se ter uma ideia da amplitude da questão, entre 2015 e 2016, no país, mais de 1.700 municípios já ofertavam as práticas integrativas. Desse total, 78% na atenção básica, 18% na atenção especializada e apenas 4% na atenção hospitalar. Daí a importância da iniciativa do Hospital Eduardo de Menezes que, somente no ano passado, realizou quase 46 mil consultas médicas convencionais, com uma média de mais de 3.800 consultas por mês, numa estrutura hospitalar com 102 leitos, sendo 84 leitos de internação, 10 de UTI e 8 de hospital-dia e uma média de 570 servidores.

Práticas integrativas e complementares que serão ofertadas pelo HEM

Mindfulness

Significa atenção plena, estar totalmente no presente. É uma prática que tem mais de 3 mil anos. Ela melhora a capacidade de concentração e reduz o estresse. De acordo com Ana Lyon, o mindfulness “permite observar sem julgar, sem reagir. Ele elimina o blá-blá-blá mental que nos faz desperdiçar energia e inteligência”. Dentre seus benefícios destaca-se o aumento da imunidade, o desenvolvimento da inteligência emocional, a melhoria da função cognitiva e da qualidade do sono.

Aromaterapia

Trabalha com óleos essenciais que trazem a força viva das plantas. São diferentes das essências, que são sintéticas e não têm função terapêutica. A aromaterapia é uma especialidade da fitoterapia. Tem efeitos diretos e indiretos sobre o sistema nervoso, endócrino, imunológico e psicológico, e individualiza o tratamento.

Constelação familiar

Foi criada na Alemanha pelo psicanalista Bert Hellinger, há mais de um século. Não há um conceito, essa prática é um caminho para a mudança de consciência. É uma forma de contato com estados profundos do inconsciente familiar, uma representação dos campos quânticos das famílias. Traz benefícios como clareza para enxergar a situação por outra perspectiva, alívio emocional e resolução de conflitos, dentre outros. É indicada em estados de vitimização e trocas de uma doença por outra, para citar apenas duas de suas indicações.

Reiki

Foi introduzido no Brasil no ano de 1983, por Claudete França e Egídio Vecchio. Tem como efeitos um profundo relaxamento, reforço do sistema imunológico, alívio de dores, sossego emocional, paz interior, bem-estar geral, redução de estresse e de ansiedade, aceleração da recuperação pós-cirúrgica etc.

Auriculoterapia

Também denominada acupuntura auricular. É uma técnica terapêutica que promove a regulação psíquico-orgânica do indivíduo por meio de estímulos nos pontos energéticos localizados na orelha – onde todo o organismo se encontra representado como um microssistema. A acupuntura auricular estimula as zonas neurorreativas por meio de agulhas, esferas de aço, plástico ou sementes de mostarda, preparadas para esse fim.

Por Alexandra Marques / Fhemig