Nesta quinta-feira (21/06), a Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG), realizou o seminário "Encarceramento, Violência e Saúde", com o objetivo de promover diálogos e trocas de conhecimentos sobre a realidade do adoecimento da população privada de liberdade e dos trabalhadores do Sistema Prisional no contexto atual da segurança pública.

A atividade contou com a presença trabalhadores da Escola, do sistema estadual de segurança pública e administração prisional, estudantes de direito, psicologia e serviço social, profissionais de saúde entre outros convidados.

O diretor-geral da ESP-MG, Edvalth Pereira, comentou sobre a importância da atividade que congrega aspectos do atual cenário prisional e a saúde das pessoas privadas de liberdade. “Essa atividade além de sua importância é oportuna, pois estamos construindo uma ação educacional com os trabalhadores do sistema prisional mineiro e ouvir o que a academia traz é um norte para nossas ações”, disse.

Pesquisas e cenários

O seminário contou com as palestras de Eli Torres, socióloga e coordenadora do Observatório da Violência e Sistema Prisional do Ministério da Justiça (MJ), de José Luiz Ratton, sociólogo e coordenador do Núcleo de Pesquisas m Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Rômulo Paes de Sousa, epidemiologista e pesquisador.

Créditos: Sílvia Amâncio

Em suas falas, os especialistas traçaram o perfil histórico do sistema prisional brasileiros com dados sobre a saúde das pessoas privadas de liberdade, o crescimento assombroso do crime organizado, as péssimas condições estruturais dos presídios, a saúde mental e física dos trabalhadores da segurança pública, superlotação, entre outros.

Impressões

Para Ana Lúcia Moreira, trabalhadora da ESP-MG, o tema da atividade já havia despertado interesse, já que possui formação em Direito e as falas a surpreenderam. “As falas demonstraram conhecimentos, experiências, humanização e pensamento reflexivo. Enquanto servidora, acredito que essa ação possibilita o desenvolvimento cognitivo e reflexão, o que é importante no processo permanente de capacitação e aperfeiçoamento de um indivíduo consciente e interativo social, além de reforçar a promoção dos princípios fundamentais constitucionais”, disse.

Créditos: Sílvia Amâncio

A estudante Natália Oliveira, se interessou pelo tema que será utilizado em sua dissertação e avalia que as pessoas não têm acesso à informação de qualidade e defendem políticas punitivas que não ressocializam as pessoas. “O sistema punitivo que temos não recupera ninguém. Somente com outras políticas e educação teríamos melhoria. Os dados e imagens que os palestrantes trouxeram ilustram isso, esse excesso de punição é desumano, não melhora em nada nossa sociedade”, afirma.

Luísa Silveira, que atua na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), na área da população privada de liberdade diz que a discussão agrega conhecimentos para as políticas púbicas de saúde. “Aproximar a saúde desse debate é um desafio, pois temos dificuldade de garantir o acesso dessas pessoas aos serviços de saúde”, finaliza.

Dados

O Brasil tem cerca de 60.000 homicídios por ano e, juntamente com México, Venezuela e Colômbia é responsável por 25% dos homicídios no mundo. A América Latina detém a taxa de 33% dos crimes violentos no mundo, sendo considerado o continente mais violento. Mas a produção de violência no país não atinge todos da mesma forma, sendo mais pontual nas populações pobres e na juventude negra.

Dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), mostram que o Brasil possui a terceira maior população de custodiados do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos e China, com cerca de 726.000 presos.

As doenças mais predominantes, e que veem aumentando na massa carcerária brasileira são Sífilis, HIV e as Hepatites B e C. Ainda de acordo com dados apresentados no seminário, a superlotação das unidades penais é responsável por esse cenário.

 

Por Silvia Amâncio/ ESP-MG