Neste último domingo (20/05) foi comemorado em todo o planeta o Dia Mundial das Abelhas. A data comemorativa, proclamada pela Organização das das Nações Unidas (ONU), foi escolhida pela Assembleia Geral da ONU para lembrar a importância da polinização para o desenvolvimento sustentável, cujo impacto afeta questões ligadas ao meio ambiente e a saúde.

As abelhas são conhecidas pela produção de mel, cera, geleia real e veneno, mas o que pouca gente sabe é que esses seres vitais para o planeta são responsáveis pela polinização de 70% das culturas agrícolas e estão correndo o risco de desaparecerem.

Apesar da importância desses insetos na manutenção e no desenvolvimento das áreas verdes, na renovação das matas e florestas, que contribuem com a geração do oxigênio necessário a toda forma de vida no planeta, as abelhas estão desaparecendo em áreas do mundo todo. No Brasil, esse desaparecimento já se manifesta em vários estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais.

Crédito: Luc Viatour / Wikimedia Commons / Reprodução.

Mas por que as abelhas estão desaparecendo? A resposta está na própria natureza e especialmente na ação do homem sobre o planeta. Doenças, pragas, fungos, ácaros, vírus, mudanças climáticas, contaminação da água, formas de manejo, déficit nutricional e o uso de defensivos agrícolas, conhecidos como pesticidas, estão entre as possíveis causas da chamada Síndrome do Colapso das Colônias.

De acordo com Lívia Gardoni, do Serviço de Recursos Vegetais e Opoterápicos (SRVO), da Fundação Ezequiel Dias (Funed), estudos mostram que o uso de defensivos agrícolas (agrotóxicos), particularmente os pesticidas neonicotinoides, são uma das principais hipóteses para o desaparecimento das abelhas.

Cientistas, empresas, governos e produtores já estão se unindo para salvar as abelhas. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) publicou, em fevereiro de 2017, uma instrução normativa que prevê a avaliação dos riscos de novos químicos considerando a cultura e a forma de aplicação. Até então, só a toxicidade era estudada.

Além disso, segundo o Ibama, alguns neonicotinoides – classe de inseticidas derivados da nicotina – estão em revisão. O manejo inadequado das colmeias também influencia. As caixas devem ficar à sombra e é preciso atenção à nutrição. Para que as abelhas não passem fome, o apicultor não pode retirar todo o mel, precisa deixá-las em locais com boa oferta de pólen e distante das lavouras, explica Lívia.

A vida secreta das abelhas

As abelhas estão na Terra há mais de 50 milhões de anos e são organismos únicos e insubstituíveis no meio ambiente, imprescindíveis para o equilíbrio do ecossistema. Lívia Gardoni explica que, ao visitar as flores em busca de seu alimento, a abelha leva, agarrados em seus pelos corporais, os grãos de pólen.

“Quando chega a uma nova flor, de mesma espécie para fazer a coleta, a abelha deposita ali os grãos de pólen carregados da flor anterior, fazendo a polinização cruzada, ou seja, promovendo a troca de gametas entre as plantas – a reprodução vegetal. O trabalho da abelha garante a variabilidade genética e a formação de bons frutos”, diz. Para as abelhas, as plantas representam a fonte de alimento, néctar, pólen e outros materiais; para as plantas, a polinização garante a subsistência de mais de 225 mil espécies vegetais.

Ciência em Movimento

O Ciência em Movimento, programa de popularização da ciência da Funed, responsável por levar aos municípios mineiros conhecimento científico e tecnológico, possui em sua programação atividades que colocam a população em contato com o mundo das abelhas por meio do conhecimento e exposição de seus produtos como mel, própolis, pólen etc., mostrando a interface com a saúde humana e as graves consequências do seu desaparecimento.

As atividades desenvolvidas pelo Ciência em Movimento sobre as abelhas são acompanhadas pelo Serviço de Recursos Vegetais e Opoterápicos, que faz parte da Diretoria Pesquisa e Desenvolvimento da Funed e é a área responsável por desenvolver pesquisas básicas e aplicadas em diversas áreas da botânica, com produtos vegetais e também opoterápicos, ou seja, produtos de origem animal.

Crédito: Luc Viatour / Wikimedia Commons / Reprodução.

As pesquisas aplicadas visam avaliar a potencialidade farmacológica desses derivados para o desenvolvimento de bioprodutos e uso sustentável da biodiversidade. “Uma das atividades do serviço é realizar análises palinológicas e físico-químicas, avaliando a origem botânica de diversos produtos apícolas”, acrescenta Lívia.

O SRVO abriga também uma Palinoteca, coleção com mais de 3mil lâminas de grãos de pólen de diversas espécies de plantas do Brasil, cuja função é ser um banco de referência para a identificação polínica das mais diversas amostras. Esta coleção faz parte do Herbário Virtual da Flora e Fungos. Para acessar o acervo on-line clique aqui e busque por coleção Funed-Pol.

Mel de aroeira

A apicultura é a criação racional de abelhas Apis mellifera, responsável pela produção de mel, cera, própolis, geleia real e veneno. O estudo dos recursos alimentares utilizados por abelhas, como a identificação taxonômica dos grãos de pólen encontrados nos produtos provenientes da colmeia (mel e própolis), permite que se determine a origem desses produtos, ou seja, reconhecer as espécies de plantas de onde a abelha retirou seu alimento para a produção desses derivados.

Lívia Gardoni explica que a entrada do mel brasileiro no mercado internacional vem auxiliando a expansão dessa atividade. No final de 2017, o SRVO finalizou um projeto de pesquisa sobre a origem botânica do mel de aroeira produzido no Norte de Minas Gerais e financiado pelo Banco do Nordeste, com o apoio da Companhia Desenvolvimento Vale São Francisco (Codevasf).

“Os resultados deste projeto estão sendo utilizados como subsídio científico para a indicação geográfica do mel de aroeira, valorizando o produto e gerando assim uma alternativa de renda para as famílias da região”.

O SRVO também já desenvolveu trabalhos com outros produtos das abelhas como a própolis verde, que é produzida em Minas Gerais e a apitoxina, que é o veneno das abelhas.

Lívia acrescenta que o SRVO também realiza pesquisas com abelhas indígenas sem ferrão, que são nativas da fauna brasileira e fundamentais na polinização das espécies da nossa flora. “O mel destas abelhas vem sendo muito apreciado pelos amantes da gastronomia, com alto valor de mercado, sendo denominado ‘mel gourmet’”, acrescenta.

 

Por Luciane Marazzi

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