Nesta terça-feira (28), O Governo do Estado de Minas Gerais, por meio da Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) iniciou o segundo módulo das “Oficinas de Vigilância e Promoção à Saúde em Áreas de Reforma Agrária”, que visam a capacitação de assentadas em áreas de reforma agrária nos territórios de Minas Gerais e dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS).

A atividade é uma parceria da Escola com a Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais (SES-MG) e recebe alunos de oito territórios mineiros (Metropolitana, Vale do Rio Doce, Leste de Minas, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Norte de Minas, Centro Oeste, Zona da Mata e Sul de Minas) e trabalhadores do SUS ligados a Atenção Básica, Vigilância em Saúde e Saúde do Trabalhador, atendendo 27 municípios mineiros.

As atividades do segundo módulo se iniciaram com a palestra “A construção da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e Águas e seus desafios de implementação”, ministrada pela docente Cristina Maia, do Ministério da Saúde. O documento prevê a garantia do direito e o acesso à saúde, por meio do SUS, incluindo as especificidades e necessidades dessas populações com seus modos de vida intrinsicamente ligados à terra e à água.

Segundo Cristina, embora essa política tenha sido implementada em 2011, as discussões na pasta da Saúde começaram em 2004. “Essa política começou a ser discutida quando chegaram as demandas sobre a dificuldade de acesso dessas populações ao serviço de saúde. A partir disso, começa no Ministério da Saúde, um forte movimento, no âmbito do SUS, sobre o reconhecimento das doenças e a falta de acompanhamento médico dessas populações”, explica.

Entre os inúmeros desafios para a sua consolidação, a docente cita a necessidade de maior investimento do SUS para lidar com os assentados, um processo mais célere de conscientização dos trabalhadores de saúde e dessas próprias populações sobre suas especificidades e de descentralização dos munícipios que abrigaram essas populações.

Conhecimento que transforma

Ludimárcia Pereira, referência técnica em Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Salto da Divisa (Norte de Minas), viajou mais de 900 km para participar da atividade. “Após a primeira oficina voltei para o meu munícipio com muitas ideias, pois foi aberto um leque de informações que até então eu não tinha. Eu pude ir aos assentamentos e acampamentos na região onde trabalho. Percebi que há muito o que podemos fazer tanto para as famílias assentadas quanto para os próprios trabalhadores da área da saúde. Já conseguimos um diferencial que foi um adicional de salário para os agentes de saúde da zona rural, pois há uma diferença quanto à logística e deslocamento deles”, alegra-se.

A vida no campo

Marlene Lemes, trabalhadora rural do assentamento Egídio Bruneto, em Campanário, no Vale do Rio Doce (MG), e participante das oficinas, ressalta a importância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Nós, trabalhadores rurais, só conseguimos nos segurar e ficar de pé por estarmos nesse movimento, que luta por terra, saúde e comida. No campo temos a oportunidade de trabalhar, sobreviver e ajudar uns aos outros”, fala com orgulho.

Segundo ela, a mudança da cidade para o campo foi decisiva. “Saí de uma vida urbana difícil sem perspectivas e faltando tudo, inclusive comida. Quando cheguei no campo, vi alimento sobrando na terra e me encantei. Hoje em dia, as pessoas assustam sobre como eu mudei e pela qualidade de vida que tenho agora. Eu sempre digo que uma alimentação rica e livre de agrotóxicos é fundamental”, conta.

A trabalhadora rural ainda ressalta a importância do conhecimento: “Estou participando dessas atividades porque nós, enquanto movimento, temos que continuar nos informando. Brincamos que queremos ficar cada vez mais “sabidos”, porque muita coisa nos impede de avançar, mas para buscar conhecimento ainda achamos um jeito”, finaliza.

Programação

As Oficinas de Vigilância e Promoção da Saúde em Áreas de Reforma Agrária seguem durante a semana com rodas de conversa, noite cultural, palestras sobre agroecologia, segurança alimentar e organicidade.

Na sexta-feira (01), as atividades serão encerradas com a mesa redonda "Trabalho, Saúde e Ambiente: desafios e compromissos na formação e atuação no SUS" e o lançamento do livro “Campo, Floresta e Águas - Práticas e Saberes em Saúde", na Unidade Sede da ESP-MG.

Por Jéssica Torres (ASCOM/ESP-MG)