Nesta semana a Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS) enviou a 53 municípios do Norte de Minas nota técnica da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) alertando sobre a necessidade de intensificar a imunização da população contra a febre amarela. Há uma estimativa de que 202 mil 384 pessoas ainda não foram vacinadas contra a doença no Norte do Estado.

Dos 86 municípios que compõem a região ampliada de saúde do Norte de Minas, que compreende localidades jurisdicionadas à SRS de Montes Claros e gerências regionais de saúde de Januária e Pirapora, em 33 municípios os índices de cobertura vacinal estão abaixo de 80%. O recomendado é que este percentual alcance 95%.

Crédito: Marcus Ferreira

A coordenadora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da SRS de Montes Claros, Josianne Dias Gusmão alerta que todos os municípios possuem recomendação para vacinar toda a população contra a febre amarela, conforme preconizado pelo Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.

De acordo com levantamento realizado neste mês pela SES-MG​, ​junto ao Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), em todo o Estado entre 2007 e 2017 a estimativa da cobertura vacinal acumulada de febre amarela é de 80,64%. Esse percentual aponta que mais de 3 milhões 843 mil pessoas ainda não foram vacinadas contra a doença.

Os dados revelam que dos 853 municípios do Estado 43,6% (372 localidades) não alcançaram 80% de cobertura vacinal e outros 31,3% (267) dos municípios têm entre 80% e 94,9% de seus moradores vacinados. Com mais de 95% de cobertura vacinal estão 25,1% dos municípios, perfazendo 214 localidades.

Os 33 municípios norte-mineiros que estão com índice de cobertura vacinal abaixo de 80% são: Juvenília, Manga, Montalvânia, Patis, Pedras de Maria da Cruz, Pintópolis, São Romão, Urucuia, Berizal, Capitão Enéas, Coração de Jesus, Espinosa, Francisco Sá, Fruta de Leite, Grão Mogol, Indaiabira, Itacambira, Jaíba, Janaúba, Joaquim Felício, Lagoa dos Patos, Mato Verde, Montes Claros, Nova Porteirinha, Novorizonte, Pai Pedro, Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Rubelita, Santa Cruz de Salinas, Verdelândia, Buritizeiro e Ibiaí.

Epidemia

Neste ano Minas Gerais registrou a ocorrência de uma epidemia de febre amarela. Foram notificados 1 mil 697 casos da doença, dos quais 475 foram confirmados. Do total de casos notificados, 227 evoluíram para óbito, sendo 162 confirmados como febre amarela, o que corresponde a uma letalidade de 34,1%.

Dentre os fatores possivelmente envolvidos na ocorrência da epidemia destacam-se a troca de gestão municipal​ que ocorreu em 86% dos municípios com casos confirmados; a baixa cobertura vacinal anterior à ocorrência da epidemia e a ausência de notificações de epizootias antecedendo a ocorrência de casos humanos.

O maior número de casos ocorreu na faixa etária de 40 a 49 anos, mas a maior letalidade esteve concentrada nos extremos de idade (0 a 9 anos com 66,7% e 60 anos ou mais com 43,4%).

Os casos confirmados da doença estiveram distribuídos em 72 municípios e sua ocorrência foi relacionada à zona rural ou silvestre, devido ao local de residência ou de realização de atividades laborais e de lazer. Além de casos humanos, foram registradas epizootias em 490 municípios (57,4% do total do estado), sendo 182 municípios com rumor; 165 localidades com epizootias em investigação e 143 com epizootias confirmadas para a febre amarela.

Com as ações de intensificação vacinal realizadas neste ano a proporção de municípios com baixas coberturas diminuiu consideravelmente. No entanto, ainda há necessidade de continuidade das ações de vacinação para garantir a homogeneidade da cobertura em todos os municípios, de acordo com a meta preconizada de 95%.

Crédito: Marcus Ferreira

Vacinação poderá acontecer em residências, escolas e locais de trabalho

O grupo técnico da Coordenação Estadual de Imunização da SES-MG recomenda que a intensificação da vacinação contra a febre amarela seja implementada pelos municípios adotando algumas ações para melhoria da cobertura vacinal. Entre as medidas indicadas estão: a ampliação do horário de funcionamento das salas de vacina; realização de vacinação de casa em casa, escolas, universidades e locais de trabalho e a realização de mais um dia “D” de mobilização no município, utilizando sábados e domingos alertando a população para a necessidade de vacinação contra a febre amarela.

A Secretaria de Estado da Saúde também recomenda aos municípios a busca ativa de pessoas não vacinadas; monitoramento rápido de cobertura vacinal para a febre amarela e o envolvimento dos profissionais da atenção primária em saúde em todas as ações, com participação ativa dos agentes comunitários de saúde.

Outra recomendação da SES-MG é que os municípios estabeleçam parcerias com outras instituições públicas e privadas, conselhos de classe e de saúde do trabalhador para incremento da vacinação contra a febre amarela, além da inserção de dados no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações sobre as doses de vacinas aplicadas.

A doença

A febre amarela é uma doença febril aguda, de curta duração (no máximo 12 dias) e de gravidade variável. A forma grave caracteriza-se clinicamente por manifestações de insuficiência hepática e renal, que podem levar à morte. Deve-se levar em conta seu potencial de disseminação em áreas urbanas.

Em ambas as formas epidemiológicas os mosquitos vetores são os reservatórios do vírus amarílico. Na doença urbana, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica. Na forma silvestre, os primatas são os principais hospedeiros do vírus amarílico e o homem é um hospedeiro acidental.

Por esse motivo os municípios devem ficar atentos aos casos de morte de Primatas Não Humanos – (PNH) visto que são eventos sentinela da doença. Os macacos não transmitem a doença, eles apenas sinalizam que há a circulação do vírus da febre amarela em determinada região.

A doença só é transmitida por meio da picada de mosquitos transmissores infectados. Não existe um tratamento específico no combate à febre amarela, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza, em todo o país, vacina segura e eficaz contra a doença.

Por Pedro Ricardo